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segunda-feira, 23 de julho de 2012

MAIOR PARTE DOS ESTADOS E MUNICÍPIOS NÃO TEM PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Brasília – A maior parte dos estados e municípios brasileiros ainda não elaborou seu Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, apesar de o prazo para concluir o projeto – que deve indicar como será feito o manejo do lixo em cada localidade – estar próximo do fim. A partir de 2 de agosto, a cidade que não tiver o planejamento fica impedida de solicitar recursos federais para limpeza urbana. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até o momento houve apenas 47 pedidos de verba para construção dos planos, entre solicitações de administrações municipais e estaduais.

 

Como não é obrigatório pedir auxílio da União para elaborar os planejamentos, pode haver projetos em curso dos quais o ministério não tenha ciência. Mas a avaliação do órgão é a de que o interesse pela criação dos planos de gestão é baixo, mesmo que se leve em conta estados e municípios atuando por conta própria. “O pessoal tinha outras demandas e foi deixando de lado. Agora o prazo está se esgotando e a maioria não elaborou [o projeto]”, diz Saburo Takahashi, gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente.

 

As cidades e unidades da Federação tiveram dois anos para construir seus planos de manejo de resíduos, cuja criação está prevista na Lei n° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. As consequências do pouco comprometimento com a exigência federal poderão ser sentidas cedo por estados e municípios. “De acordo com a legislação, até 2014 devem ser eliminados todos os lixões do Brasil. Para isso, será preciso implantar aterros sanitários, o que não se faz da noite para o dia. As cidades e estados que não tiverem plano de gestão não vão poder solicitar recursos para fazer isso”, destaca Takahashi.

 

O represente do ministério reconhece, porém, que a verba disponível para ajudar municípios e unidades da Federação a elaborar os planos é escassa. No ano passado, houve destinação de R$ 42 milhões para essa finalidade, dos quais R$ 36 milhões foram usados. Este ano não foi disponibilizado dinheiro, e o governo federal limitou-se a liberar os R$ 6 milhões que não haviam sido executados em 2011.

 

Saburo Takahashi ressalta, no entanto, que o ministério redigiu um manual de orientação para ajudar prefeitos e governadores na elaboração do plano, disponível no site do órgão (www.mma.gov.br). Além disso, a pasta firmou convênio com a e-Clay, instituição de educação a distância que pode treinar gratuitamente gestores para a criação do plano de manejo. Interessados devem entrar em contato pelo telefone (11) 5084 3079.

 

A pesquisadora em meio ambiente Elaine Nolasco, professora da Universidade de Brasília (UnB), considera positiva a capacitação a distância, mas acredita que para tornar a gestão de resíduos uma realidade é preciso mais divulgação desse instrumento, além da conscientização sobre a importância do manejo do lixo. “Tem que haver propaganda, um incentivo para as pessoas fazerem isso [o curso]”, opina. Elaine acredita que a dificuldade para introdução de políticas de manejo – como reciclagem e criação de aterros sanitários – atinge sobretudo os municípios pequenos, com até 20 mil habitantes. “Faltam recursos e contingente técnico nas pequenas prefeituras”, destaca.

 

O vice-presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), João Zianesi Netto, também avalia que faltou capacitação e conscientização. “Alguns [Não criaram o plano] por ignorância, outros por desconhecimento técnico. Em muitos municípios de pequeno e médio porte, a destinação dos resíduos é gerenciada por pessoas que não têm a formação adequada. Além disso, há uma preocupação de que quando você começa a melhorar a questão ambiental você aumenta os custos”, afirma.

 

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziluldoski, reclama da falta de auxílio financeiro para que as prefeituras cumpram as determinações da Lei n°12.305. Segundo ele, são necessários R$ 70 bilhões para transformar todos os lixões em aterro sanitário, até 2014. “Isso equivale à arrecadação conjunta de todos os municípios do país. Quando acabar o prazo, os prefeitos estarão sujeitos a serem processados pelo Ministério Público por não terem cumprido a lei”, disse. De acordo com ele, a estimativa da CNM é que mais de 50% das cidades brasileiras ainda não elaboraram os planos de gestão de resíduos. (por Mariana Branco, da Agência Brasil)

 

Para ficar informado sobre mudanças climaticas, projetos e mercados de carbono; construções sustentáveis Pesquisa e inovação;

domingo, 22 de julho de 2012

BOLSA DE VALORES SOCIOAMBIENTAIS CAPTA RECURSOS FINANCEIROS PARA PROJETOS DE ONGS DE TODO O BRASIL

A Bolsa de Valores Socioambientais (BVSA), programa da BM&FBOVESPA, apresenta em seu portal www.bvsa.org.br 15 projetos de ONGs brasileiras, selecionados rigorosamente, para captação de recursos financeiros. Entre eles, está o projeto “InFormação: Qualificando Estudantes para os Desafios do Desenvolvimento”, da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), de Brasília, que visa oferecer qualificação em temas da agenda social a estudantes de Jornalismo, por meio de bolsas de estudo e outras oportunidades.

 

Pessoas físicas e empresas podem conhecer detalhes dos projetos listados e fazer suas doações por meio do próprio portal da BVSA. Para se tornar um investidor socioambiental, basta se cadastrar no portal, escolher os projetos com que deseja contribuir – de acordo com o tema, público beneficiário ou região do país – e montar sua carteira de DoAções. Podem ser doados valores a partir de R$ 20,00 (com cartão de crédito ou boleto bancário). Desde sua criação, em 2003, a BVSA já arrecadou mais de R$12 milhões, destinados a 119 projetos de todo o Brasil.

 

Para serem listados na BVSA, os projetos socioambientais precisam ter como foco os Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, definidos pela ONU. Além disso, a ONG tem que prestar contas aos seus investidores socioambientais, com a publicação periódica de relatórios no portal, como se fosse uma empresa de capital aberto. Com o encerramento da captação, o monitoramento do projeto continua com a BVSA, que garante que todos os recursos sejam direcionados para os objetivos estabelecidos.

 

Podem inscrever-se ONGs sem fins lucrativos, com projetos orçados de R$ 30 mil a R$ 100 mil e experiência comprovada na área. Após a inscrição, a equipe da BVSA avalia, com base em critérios técnicos, as organizações que passarão para a segunda fase do processo de seleção, que consiste na visita de um especialista ao projeto. Na última etapa, o Comitê de Seleção, formado pelo superintendente do Instituto BM&FBOVESPA, um membro da BM&FBOVESPA e um convidado externo, analisa os pareceres técnicos elaborados pelos especialistas para definir quais projetos serão listados na BVSA.

 

Como um programa pioneiro no mundo, a BVSA conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o reconhecimento da ONU como estudo de caso e inspirou outras Bolsas, como a de Johanesburgo (África do Sul) e Lisboa (Portugal), que apoiam estruturas similares.(BM&F Bovespa)

 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

LANÇAMENTO DAS DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS SOCIAIS - QSP 26005-2012

O que é uma Avaliação de Impactos Sociais (AIS)?

Não há uma definição amplamente aceita de Avaliação de Impactos Sociais (AIS). Ela pode ser definida como um processo que busca avaliar, previamente, as repercussões sociais que possivelmente surgirão após a realização de projetos para promover o desenvolvimento, tais como projetos de barragens, minas, indústrias, estradas, portos, aeroportos, desenvolvimento urbano e energia. É uma ferramenta que pode ajudar os responsáveis pela tomada de decisão a preverem os prováveis ​​impactos negativos de suas ações a fim de que as providências necessárias para impedir, ou pelo menos conter, tais impactos possam ser tomadas a tempo. Como auxílio para a tomada de decisão, a AIS fornece informações sobre os fatores sociais e culturais que precisam ser levados em consideração para qualquer decisão que afete a vida das pessoas da área do projeto.

 

As principais vantagens da realização de uma Avaliação de Impactos Sociais (AIS) sistemática incluem:

 

Identificar os Grupos Afetados: a AIS ajuda a identificar pessoas e grupos que afetam ou são afetados pelo projeto.

 

Conciliar Medos e Ganhar Confiança: a AIS pode ajudar a acalmar os receios dos grupos afetados e a construir uma base de confiança e de cooperação que é tão essencial para o sucesso da implementação do projeto.

 

Evitar Impactos Adversos: a AIS fornece a base para a preparação de medidas de mitigação para evitar, reduzir ou gerenciar os impactos negativos.

 

Melhorar Impactos Positivos: a preparação da AIS também ajuda a identificar medidas para maximizar / compartilhar os benefícios do projeto.

 

Reduzir Custos: lidar com os impactos sociais na fase inicial ajuda a evitar erros que podem custar caro no futuro.

 

Obter Aprovação Mais Rapidamente: uma AIS bem preparada demonstra que os impactos sociais estão sendo levados a sério e ajuda na obtenção mais rápida da liberação do projeto.

 

A Avaliação de Impactos Sociais baseia-se na noção de que os responsáveis pela tomada de decisão devem entender as consequências de suas decisões antes de agir, e de que as pessoas afetadas não só serão informadas sobre os efeitos, mas terão a oportunidade de participar da construção de seu futuro.

 

Em agosto, lançamento da norma QSP 26005:2012 - Diretrizes para Avaliação de Impactos Sociais

 

 

Embora uma Avaliação de Impactos Sociais antes do início de um novo projeto ou expansão de um projeto existente seja obrigatória no âmbito das políticas nacionais de diversos países, ainda não há diretrizes adequadas para esse fim. A Norma QSP 26005 de Diretrizes para Avaliação de Impactos Sociais visa a preencher essa lacuna.

PEQUENAS MUDANÇAS DE CONSUMO PODEM MELHORAR QUADRO DO SISTEMA ALIMENTAR MUNDIAL

O documento apoia os agricultores familiares. Foto: Fora do Eixo

 

A organização não governamental Oxfam apontou que pequenas mudanças no consumo dos alimentos, como reduzir o desperdício, comprar produtos da estação e cozinhar de forma eficiente, podem diminuir os impactos no atual sistema alimentar global. A afirmação faz parte de um estudo realizado pela ONG, divulgado na quarta-feira, 18 de julho.

 

A pesquisa, que ouviu mulheres de seis países (Brasil, Filipinas, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos), propõe novas maneiras de se consumir alimentos com base em princípios que incluem também o apoio a agricultores familiares.

 

Reduzir o consumo de carne e de derivados do leite também é uma alternativa indicada pelo documento, em razão da frequente prática da pecuária extensiva (criação de bovinos em grandes terrenos, mas com baixa produção). “Nossa ideia é empoderar as mulheres consumidoras como autoras das mudanças nos padrões de consumo e de desperdício”, explicou Muriel Saragoussi, coordenadora da campanha Cresça, da Oxfam no Brasil.

 

Muriel lembrou que um terço dos alimentos produzidos no mundo vai parar no lixo, enquanto cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome no planeta. Um dos exemplos citados no estudo trata do consumo de maçãs – cerca de 5,3 bilhões de unidades estragam todos os anos apenas nos seis países onde as entrevistas foram realizadas.

 

Brasil da agricultura familiar

O Brasil aparece no levantamento como um país onde 70% dos alimentos consumidos são provenientes da agricultura familiar. “É dela que vem o alimento que está na sua mesa e na minha mesa, mas eu preciso saber como isso é feito e me importar em apoiar os agricultores familiares”, destacou a coordenadora. Segundo Muriel, um alimento orgânico vendido em supermercados brasileiros chega a ser até 400% mais caro em relação aos comercializados em feiras de produtores.

 

“No Brasil, as mulheres parecem bastante conscientes e desejosas de aumentar sua capacidade de poder escolher. Elas querem saber como economizar, como comprar no comércio justo e buscam informações”, avaliou Muriel. Entre as entrevistadas, 57% das brasileiras declararam que se chateiam quando jogam alimento fora, contra 39% no Reino Unido, por exemplo. ( Agência Brasil -   Redação EcoD)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

PROJETO BRASILEIRO ENTRA NA LISTA DOS DEZ MAIS INOVADORES DO MUNDO EM INFRAESTRUTURA URBANA

Rio de Janeiro – Um projeto brasileiro da área de energia está entre os dez melhores projetos de infraestrutura urbana inovadores, que podem tornar as cidades habitáveis e sustentáveis. Os projetos constam de uma lista incluída no relatório global Infraestrutura 100: Cidades Mundiais, apresentado pela empresa de consultoria internacional KPMG na Cúpula das Cidades do Mundo, em Cingapura, no início deste mês.

 

O relatório mostra como projetos pioneiros na área da infraestrutura podem fazer diferença, contribuindo para o surgimento das chamadas cidades do futuro, locais onde as pessoas querem morar e trabalhar. O Brasil aparece com dez entre os 100 projetos selecionados, metade das iniciativas apresentadas pela América do Sul.

 

Considerado um dos dez mais relevantes do mundo, o projeto Cidade Inteligente Búzios foi incluído na categoria infraestrutura de energia urbana e, de acordo com a publicação, responde a um dos maiores desafios do século 21, que é o desenvolvimento da infraestrutura urbana sustentável.

 

Os outros projetos inspiradores listados no relatório são os de Acesso pelo Lado Leste, da cidade de Nova York, na categoria mobilidade urbana; Corredor Industrial Delhi-Mumbai, na Índia, em conectividade global; Desenvolvimento Regional de Oresund, Dinamarca e Suécia, sobre recuperação urbana; Universidade Princess Nora Bint AbdulRahman para Mulheres, de Riad, capital da Arábia Saudita, que trata de educação; Royal London Hospital, de Londres, sobre saúde; Planta de Dessalinização Tuas II, de Cingapura, relativo à água; Cidade Ecológica de Tianjin, Tianjin, da China, sobre cidades novas e ampliadas; Sistema de Esgoto em Túneis Profundos, de Kranji para Changi, de Cingapura, que trata de reciclagem e gerenciamento de resíduos; e Projeto de Cabo do Briocs, da África do Sul e Ilhas Maurício, sobre infraestrutura de comunicações.

 

Segundo a diretora da KPMG no Brasil, Iêda Novais, a questão da sustentabilidade foi determinante na escolha dos melhores projetos mundiais de infraestrutura urbana, que são modelos para serem copiados em outras cidades e regiões. “O fundamental é trazer projetos que ajudem os países a ter boas práticas. Ter um modelo.” Para ela, muitas vezes, o que falta às cidades é uma metodologia que possa ser adotada localmente, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), com financiamentos diversos. “Esses projetos podem criar uma nova fronteira, em termos de gestão das cidades”.

 

Esta foi a segunda edição do relatório sobre infraestrutura nas cidades mundiais. Na primeira, divulgada no ano passado, o Brasil entrou com seis projetos – um deles, o do trem de alta velocidade, que ligará os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, apareceu também entre as dez principais iniciativas globais. De acordo com Iêda, a edição deste ano incluiu projetos “mais encorpados” do Brasil, alguns vinculados a megaeventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

 

Iêda diz que acordos como o que foi firmado em junho entre as 20 maiores cidades do mundo durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, é que vão determinar a adoção de práticas sustentáveis no mundo. “Esse tipo de acordo é que vai fazer com que a questão da sustentabilidade nas grandes cidades venha a tomar forma, a partir de agora, para atender às exigências futuras das populações.”

 

Para ela, tais práticas determinarão o surgimento de novas “fronteiras” entre cidades, regiões e países, que ultrapassarão a questão geográfica. “As cidades vão competir entre si economicamente e na geração de empregos. As cidades sustentáveis têm melhor clima para atrair investimentos e oferecer mais qualidade de vida às pessoas.”  De acordo com Iêda, o objetivo de todos os projetos selecionados é gerar benefícios para as populações. Os países que têm práticas de infraestrutura mais desenvolvidas foram selecionados em todas as  regiões do mundo.

 

Os demais projetos brasileiros selecionados na publicação deste ano foram a modernização do Hospital do Subúrbio e o Projeto Integrado de Gestão de Água e Saúde, na Bahia; o Centro de Operações Rio da IBM, o corredor de transporte coletivo Transolímpica, o Porto Maravilha, e o Parque Olímpico, todos no Rio de Janeiro; a primeira parceria público-privada (PPP) do país para a construção e operação de escolas, em Belo Horizonte; a Linha 4 do Metrô de São Paulo; e o Embraport, maior terminal privado multiuso do Brasil, no Porto de Santos, em São Paulo.

* Edição: Nádia Franco - ** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

O 'LIXO' QUE NINGUÉM VÊ

‘Tá’ legal, já entendi essa historinha toda de “colocar o lixo no lixo”. Agora, podemos e devemos mesmo separar o lixo orgânico do reciclável. Fazendo isso, praticamos o contraponto às indústrias que produzem cada vez mais embalagens desnecessárias, atendendo pedidos das empresas que querem maior clientela consumindo – primeiro, com os olhos – os produtos.

Até aí, tudo certo – já entendi mesmo. Quanto a isso, acho que faço a minha parte – a parte que devo à natureza que me acolhe. Sempre vejo os catadores de papéis, pelas ruas, e lamento que não sejam valorizados, reconhecidos como verdadeiros ambientalistas. Ainda por cima, são muito mal pagos, pelo imensurável serviço que prestam ao meio ambiente futuro, passado, presente.

 

O lixo que a gente produz, inadvertida e cada vez mais comumente, eu sei aonde deve parar. Você também sabe. ‘Tá’ certo que nosso Brasil ainda peca, pela falta de saneamento básico. Por isso, ainda há tantos lixões por aí, por aqui, em todo lugar. Mas a gente sabe que, se cada qual fizer a parte que lhe cabe – dando destino certo ao lixo -, os lixões a céu aberto (ou fechado) acabam, por falta de lixo extraviado.

 

Até aí, entendido (acho). Mas onde vai parar tanto lixo que a gente produz em pensamentos, ideias, sentimentos ruins, intenções?… Ah, aposto que você nunca pensou nisso – nem eu. Mas – pronto! – ‘tô’ pensando agora.

É sério. Aonde vai parar tanto lixo que a gente cria, pensa, imagina, deseja, e depois deixa de desejar?… Aonde vai parar todo esse lixo, gente, que deve ser maior que qualquer lixão que possa existir no planeta?…

 

Cá entre nós, se uma pessoa só já pensa tanta asneira negativa, imagine meia dúzia, dúzia e meia – milhares, milhões, zilhões… É lixo pra caramba!… Aonde vai parar tudo isso?… Ser humano não saberia criar saneamento básico, pra dar destino correto, pra toda essa sujeira… Algumas criaturas costumam guardar dentro de si – sei lá onde – esse lixo todo… Mas acho que chega um dia que o ‘depósito’ arrebenta, estoura, por que não há tanto espaço pra tamanho lixo.

 

Pense comigo (ou não): se todos nós pensamos mais que falamos, ou agimos, manifestamos, e se, no meio de tanto ‘entulho’, há muito lixo, onde fica tudo isso, hein?… Quando é uma poeirinha inocente, a gente trata logo de esconder debaixo do tapete. Mas, diante de tanto lixo (mental, espiritual, ou sei lá mais o quê), aonde isso tudo vai parar?…
Alguns dizem que somatizamos (esse lixo), e acabamos contraindo doenças… Mas, mesmo assim, se isso ocorre, a doença deve ‘gastar’ cadinho da energia desse lixo todo dos nossos pensamentos, intenções, desejos, sentimentos, mas não deve ‘queimar’ todo esse lixo. É muita coisa, gente – sejamos honestos (sei lá com quem).

Lixo é sempre lixo – ainda que, há algum tempo, a humanidade esteja reciclando, e até confeccionando arte e utilidades com o que é retirado da lixeira. Tudo bem. O trabalho é admirável. Que a gente aprenda reciclar o que pode ser reciclado dos nossos pensamentos, intenções, sentimentos e desejos. Maravilha!… Mas e o resto? – insisto em questionar.

 

Onde vai parar o grande lixo de cada um de nós?… Neste caso, não há jeito de a gente pedir auxílio de ambientalistas, nem de catadores de papel, ou lixeiros. É por nossa conta. Não tem jeito.

Nara França é jornalista gaúcha, tendo sempre trabalhado em redação de jornal, e hoje atuando em entidades sindicais e movimentos sociais, no sul do Brasil. Também, mantém o bloghttp://ironia-cronica.blogspot.com.br/ - EcoDebate, 08/06/2012

TERRAS INDÍGENAS: "O FILÉ DO MERCADO DE CARBONO MUNDIAL"

São os territórios indígenas da América Latina “que os operadores do mercado pretendem usar como base de troca para que as corporações possam dar continuidade a seus negócios”, declara Augusto Santiago, coordenador do Programa Direito a Terra, Água e Território (DTAT).

 

“Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo do Bem Viver-Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos tradicionais associados.” É a partir desse discurso, publicado no documento final do IX Acampamento Terra Livre – Bem Viver-Vida Plena, elaborado e assinado por mais de 1.800 lideranças indígenas que participaram da Cúpula dos Povos no mês passado, no Rio de Janeiro, que as comunidades indígenas propõem a sustentabilidade do planeta. De acordo com Augusto Santiago, coordenador do Programa Direito a Terra, Água e Território (DTAT), as comunidades indígenas têm um modo de produção diferenciado do manejo comercial e, nesse sentido, destaca, as terras indígenas brasileiras “têm sido mais eficientes do que as unidades de conservação para a conservação da biodiversidade”.

 

Na avaliação de Santiago o modo de produção e de vida das comunidades indígenas está ameaçado, especialmente porque “os quase 20 milhões de hectares reconhecidos na América do Sul como de posse de povos indígenas são ‘o filé’ do mercado de carbono mundial. É ele que os operadores do mercado pretendem usar como base de troca para que as corporações possam dar continuidade a seus negócios”, diz em entrevista à IHU On-Line, por e-mail. Ao defender o modo de produção e de vida das comunidades indígenas da América Latina, ele enfatiza que a “tradição não deve ser vista como algo estático e imobilizante, ela se inova e reinventa a partir do contato com o novo. As comunidades também se interessam pelo uso dos produtos e das tecnologias, e nosso objetivo não é voltar ao passado, mas sim construir um futuro com mais justiça. O que questionamos em nosso coletivo é o lucro acima da vida, a obsolescência programada, o patenteamento da vida”.

 

Augusto Santiago é coordenador do Programa Direito a Terra, Água e Território (DTAT), que reúne 13 organizações brasileiras que atuam nessa temática. Trabalha na Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), organização ecumênica de serviço, prestes a completar 40 anos de existência, tendo apoiado cerca de dez mil pequenos projetos nesse período.

 

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como o modo de vida das comunidades e dos povos tradicionais pode ser um instrumento na luta contra as mudanças climáticas?

Augusto Santiago – Os meios de vida das comunidades tradicionais são, em geral, de baixa emissão de carbono, no Brasil e em todo o mundo. Este padrão inclui atividades pouco intensivas, com gestão do território como um todo e pouco concentradas, aproveitamento de espécies de plantas e animais em número bem superior ao nosso. Povos e comunidades contribuem com o abastecimento local de cidades com espécies alimentares plantadas e nativas, produzidas com manejo sem veneno e vendidas sem o custo das transações transoceânicas.

 

Apesar das propostas do documento oficial da Rio+20 não assumirem o desafio da redução do consumo, muitos de nós já sabemos que não há suporte no planeta para o contínuo crescimento da economia e do comércio mundial com seus altos custos de produção e distribuição, e sua concentração e controle por poucas corporações.

 

É preciso, porém, tomar cuidado com esta questão. Acredito que a tradição não deve ser vista como algo estático e imobilizante, ela se inova e reinventa a partir do contato com o novo. As comunidades também se interessam pelo uso dos produtos e das tecnologias, e nosso objetivo não é voltar ao passado, e sim construir um futuro com mais justiça. O que questionamos em nosso coletivo é o lucro acima da vida, a obsolescência programada, o patenteamento da vida.

 

IHU On-Line – Em que medida os indígenas e povos tradicionais contribuem para o debate acerca da crise ambiental? Que diferencial eles apresentam no sentido de garantir a preservação do planeta?

Augusto Santiago – Nos últimos 20 anos, os povos indígenas brasileiros têm contribuído no debate sobre a crise ambiental. Um exemplo disso é a realização do Xingu+23, em comemoração ao evento de resistência contra o projeto que hoje se chama de Belo Monte. As iniciativas de Chico Mendes são hoje conhecidas na academia como “ambientalismo camponês” e distinguem as contribuições brasileiras no tema, justamente por terem sido mobilizadas e levadas a cabo por povos e comunidades tradicionais, ainda nos anos 1980, quando lutavam por suas terras e suas florestas e das quais sobrevivem. Os conflitos por terras no Brasil não diminuíram no período. Pelo contrário, acirraram-se.

 

No documento final do IX Acampamento Terra Livre – Bem Viver-Vida Plena, realizado este ano na Cúpula dos Povos, no Rio de janeiro, as 1.800 lideranças indígenas presentes indicaram que: “Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo do Bem Viver-Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos tradicionais associados”.

 

Terras indígenas

Estudos mais ou menos recentes indicam, por exemplo, que as terras indígenas brasileiras têm sido mais eficientes do que as unidades de conservação para a conservação da biodiversidade. Onde há terras florestadas, existem comunidades, e as sobreposições entre propostas para criação de unidades de conservação e áreas ocupadas por comunidades tradicionais ou povos indígenas também reforçam a tese de que a conservação sempre esteve ligada ao uso e ao conhecimento associado à biodiversidade. Então, considerando a inexistência de dúvidas quanto à efetiva diferença entre o manejo comercial e o realizado pelas comunidades, destacaria, entre tantas contribuições diferenciais, o conhecimento associado ao uso da biodiversidade e as tecnologias de baixo impacto de que dispõem, além da capacidade de viver com baixo nível consumo.

 

IHU On-Line – Como você avalia o documento final da Rio+20, que não levou em conta o modo de vida das populações tradicionais? Por que os povos indígenas e tradicionais não são considerados nas negociações governamentais?

Augusto Santiago – Lá na Cúpula dos Povos tivemos uma importante discussão sobre economia verde, com a participação de Achim Steiner, um dos responsáveis pelo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que apresenta seus “princípios” (ou tenta reunir conceitos e definir diretrizes gerais). Ele estava em uma mesa com diversos movimentos e ONGs, e os discursos contra a economia verde foram muito fortes. Ao final não houve nenhuma consideração sobre a possibilidade de diálogo entre esses dois mundos.

Na noite seguinte, escutei um novo discurso da mesma pessoa. Foi na entrega do Prêmio Equatorial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), cujo primeiro lugar – em iniciativas sustentáveis – foi para a Articulação Pacari do Brasil. Premiaram 25 comunidades e suas iniciativas locais, que vão contra a corrente. Achim Steiner fechou o evento, aplaudindo aquelas pequeníssimas iniciativas (algumas em ilhas remotas da Indonésia ou do Pacífico). Em pequena escala, esses eventos, em minha opinião, retratam a hipocrisia do documento oficial, batendo palmas para comunidades enquanto estabelece um arcabouço legal para que as (mesmas) corporações se reinventem e deem continuidade à expropriação das terras e também dos conhecimentos associados ao uso da biodiversidade.

 

IHU On-Line – Quais são os principais problemas apontados pelas comunidades indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais em relação aos impactos gerados pelas mudanças climáticas nos biomas brasileiros? Considerando o último encontro que tiveram com as comunidades tradicionais, o que apontam?

Augusto Santiago – As comunidades têm percebido as mudanças do clima ao longo da última década. As percepções mais fortes estão relacionadas à alteração no ciclo das chuvas e à desorganização dos calendários tradicionais de plantio e colheita, bem como a extensão das estiagens. O aumento do calor foi indicado principalmente nas comunidades do Norte e Nordeste. Estas mudanças implicam uma série de riscos climáticos – iminentes ou potenciais. Nosso esforço é para discutir não só os riscos, mas nosso potencial de enfrentá-los no âmbito local, com práticas mais sustentáveis e, no âmbito regional e nacional, com articulação política. Em geral, nosso exercício possibilitou levantar as contribuições das comunidades às emissões de carbono e, da mesma forma, nos permitiram avaliar estratégias para limitá-las.

 

A análise mais ampla da questão nos permite observar que comunidades e povos tradicionais brasileiros ainda disputam seus territórios com o modelo de desenvolvimento baseado na emissão de carbono: o agronegócio, a mineração, os grandes projetos. A luta pela diminuição das emissões no Brasil passa pela luta pela regularização dos territórios destas comunidades.

 

Para aquelas comunidades que já regularizaram seus territórios, a discussão também é absolutamente relevante. Os quase 20 milhões de hectares reconhecidos na América do Sul como de posse de povos indígenas são “o filé” do mercado de carbono mundial. É ele que os operadores do mercado pretendem usar como base de troca para que as corporações possam dar continuidade a seus negócios. Índios negociam o carbono de suas florestas, para tanto devem imobilizá-las ou mantê-las com pouco uso. Operadores, mediante boas taxas de retorno, vendem estes créditos na bolsa de valores para indústrias que os usam como uma espécie de autorização para poluir. Ah, ia me esquecendo de uma última fatia do mercado: consultores altamente especializados controlam por meio de satélites se o acordo é cumprido.

 

IHU On-Line – Que ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas já são realizadas, tendo em vista os relatos das comunidades tradicionais?

Augusto Santiago – Ao fim das oficinas, as comunidades são estimuladas a rever suas atividades que mais colaboram com as “emissões” e a ampliar aquelas que “fixam carbono” – palavrinhas que passaram a conhecer no evento. A roça em geral é a maior contribuição de algumas comunidades, e o desafio de não usar o fogo – trator dos pobres –, ainda é grande.

 

Muitas comunidades enfrentam uma crise de sua reprodução com base nos conhecimentos tradicionais, seja pela perda de sua sustentabilidade por fatores externos, seja pela perda de seus territórios tradicionais. Assim, como em qualquer comunidade rural brasileira, é grande o desafio de educar e manter o jovem na roça. Em algumas localidades, o desafio é enfrentado associando o conhecimento tradicional, repassado há gerações, com iniciativas inovadoras. Em nosso trabalho na Cese temos oportunidade de conhecer várias das iniciativas em temáticas como a agroecologia e a comercialização direta em feiras, o turismo comunitário, a incorporação do design em artesanatos elaborados a partir do extrativismo, a valorização de alimentos tradicionais por grandes chefes de cozinha, entre outros.

 

IHU On-Line – Como avalia a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)? Como a política é desenvolvida e aplicada no Brasil? Em que medida ela tem contribuído para minimizar os efeitos das mudanças climáticas?

Augusto Santiago – É positivo que tenhamos esta política, mas questionamos o espaço que ela disponibiliza para a discussão com a sociedade e especialmente com aqueles agentes que, ao longo dos últimos 20 anos, com apoio do governo e da cooperação, vêm desenvolvendo iniciativas de desenvolvimento sustentável. Esta política não tem espaço para transformar essas iniciativas em programas de governo e massificá-las. Para provar isso basta analisar o Plano de Agricultura de Baixo Carbono, único plano setorial(1) já elaborado dentro desta política. Os recursos disponíveis estão quase todos destinados ao agronegócio. Nada é dito sobre os demais setoriais.

 

Analisando o PPA – Clima e Mudança Climática – Orçamento 2008-2010, a mesma tendência é observada. Lá, além do agronegócio e das indústrias, temos espaço para as pesquisas, para as emergências e para o fundo clima. Não há espaço para iniciativas inovadoras como as muitas que poderiam participar do prêmio Equatorial do Pnud, citado acima.

 

Uma boa iniciativa é a do Fundo Clima, porém seu primeiro edital não contemplou a necessária informação e formação da sociedade para que se participasse das discussões; preferiu focalizar uma pequena parte dos recursos para a sociedade civil implementar projetos de usos de tecnologias sociais com o mesmo formato piloto dos últimos 20 anos. A maior parte dos recursos é para adaptação das indústrias.

 

O desejo das organizações articuladas no DTAT – programa apoiado pela ICCO – é informar e formar para que as comunidades possam qualificar e ampliar a comunicação que fazem com a sociedade, aproximando campo e cidade, com o que vão buscar maior eficiência na incidência que já realizam. Mudanças climáticas é tema estratégico, pois mobiliza tanto as comunidades quanto a sociedade.

 

Nota (1) Plano ABC – Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono.  (Fonte: Publicado originalmente no site IHU-Online.)

domingo, 15 de julho de 2012

MARCO REGULATÓRIO SOBRE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NO BRASIL

Diante da crescente pressão sobre os ecossistemas, várias instituições e governos têm buscado criar incentivos para melhoria da gestão do patrimônio ambiental. Nesse sentido, políticas de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) têm sido apontadas ao redor do mundo como uma opção viável para alcançar esse objetivo, complementando ações de comando

e controle.

 

No Brasil, vários estados têm adotado leis de PSA e há uma progressiva discussão para adoção de uma lei nacional sobre o tema. Diante disso, o Imazon e o GVces conduziram este estudo com o objetivo de mapear e analisar leis sobre PSA em âmbito federal e estadual no Brasil, enfocando em serviços ambientais ligados a florestas. Analisamos também os principais Projetos de Lei (PL) em trâmite no Congresso Nacional sobre PSA e sobre Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal e o papel da conservação, manejo e aumento de estoque florestal (REDD+).

 

Analisamos 28 iniciativas legislativas sobre o tema. Oito delas estão no âmbito federal (2 leis, 2 decretos e 4 PLs) e 20, no âmbito estadual (14 leis e 6 decretos). Os estados abrangidos por estas leis incluem: Acre, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. Observamos que algumas dessas leis encontradas são específicas sobre PSA. Outras são de fato leis sobre mudanças do clima, mas que instituem programas de PSA. Há ainda casos de regras sobre recursos hídricos que tratam sobre esse tipo de pagamento. Portanto, há uma grande diversidade de abordagens sobre o tema, principalmente na esfera estadual.

 

Analisamos as normas e PLs encontrados com base em nove componentes considerados essenciais para um regime jurídico robusto de PSA: arranjo institucional, tipos de serviços ambientais abrangidos, fontes de recursos, beneficiários, categorias fundiárias elegíveis para os programas, requisitos de acesso ao recebimento de benefício, remuneração e critério de cálculo, sistemas de verificação de prestação do serviço e salvaguardas socioambientais. (Autor: Priscilla Santos, Brenda Brito, Fernanda Maschietto, Guarany Osório & Mário Monzoni (orgs.)

INTERDISCIPLINARIDADES;NEM SEMPRE SÃO FÁCEIS

A ciência moderna, cada vez mais especializada, clama pelo diálogo entre saberes. Na prática, no entanto, as fronteiras entre diferentes áreas do conhecimento são conflituosas e, muitas vezes, intransponíveis. O antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte trata a questão em sua coluna de julho.

 

A organização, distribuição e dinâmica das disciplinas em nossa cultura constituem processo complexo, o qual reflete as profundas diferenças que balizam o campo científico moderno. (obra: Escola dos animais, de Antônio Rodrigues | foto: Cícero Rodrigues)

 

Ao mesmo tempo em que se desenvolveu, no âmbito do empreendimento científico ocidental, uma intensa especialização dos saberes, essencial para a condução profissional da pesquisa e da reflexão, constituiu-se um discurso reativo, clamando pela reconexão dos saberes e pela reconstrução de vínculos de conhecimento mais integrados ou integradores.

 

Há uma série de expressões que transmitem essa ambição, tais como interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Cada uma enfatiza um determinado regime de contato e diálogo entre os saberes especializados, mas – para os fins desta coluna – empregarei o primeiro, como guarda-chuva geral. E o empregarei no plural, tal como consta do título, já que a pluralidade é uma das características mais marcantes desse processo.

 

A organização, distribuição e dinâmica das disciplinas de conhecimento em nossa cultura constituem processo complexo e, embora este tenda a se considerar igualitário e equânime, opera na verdade a partir de valorações diferenciais bem nítidas, de demarcações hierárquicas dos saberes, de suas prerrogativas acadêmicas, de seus privilégios institucionais, de suas prioridades estratégicas para as nações e instituições a que servem.

 

Tal processo não é novo e presidiu mesmo a essa grande divisão, ocorrida no século 19, entre as ciências naturais, experimentais, hard, e as ciências humanas, interpretativas, soft. As últimas, entre as quais a antropologia sociocultural, só se consolidaram tardiamente, muitas vezes em reação às ambições epifenomenistas, reducionistas, de suas irmãs mais velhas, firmemente ancoradas na aliança entre empirismo e iluminismo que marcou o advento da ciência moderna no século 17.

 

Os opostos se atraem

 

As interdisciplinaridades nas ciências naturais são resultado quase automático das exigências da pesquisa em determinados níveis ou condições da matéria examinada. Assim proliferam as combinações entre subsetores das grandes divisões da física, química e biologia (com a mediação da matemática), eventualmente se consolidando em rubricas institucionalizadas – em constante renovação, rearticulação, recomposição. É a continuidade do mundo natural em si mesma que exige sua observação, análise e modelização por ângulos disciplinares combinados, contíguos.

 

As pressuposições das ciências humanas são múltiplas, complexamente herdeiras de outras formulações cosmológicas da cultura ocidental

 

A situação é simetricamente inversa no campo das ciências humanas. Movendo-se na esfera do pensamento, dos valores, das crenças, do sentido das práticas e comportamentos, que são fundamentalmente descontínuos, em diversos níveis, dependem esses saberes de pressuposições analíticas abrangentes, de modo a captarem as totalidades intrínsecas em que se articula a via social.

As ciências naturais também operam com pressuposições, paradigmas abrangentes que sustentam a possibilidade de enunciar hipóteses e projetar experimentos, mas o fazem a partir de um campo altamente unificado: o do realismo e do naturalismo estruturantes da ciência moderna. As pressuposições das ciências humanas são múltiplas, complexamente herdeiras de outras formulações cosmológicas da cultura ocidental, como a filosofia romântica, por exemplo.

 

Nesse caso, portanto, alguma expectativa de interdisciplinaridade pode colidir com as fronteiras desses paradigmas maiores. É certamente muito mais difícil, por exemplo, fazer dialogar um cientista político formado no ‘individualismo metodológico’ e na ‘teoria da ação afirmativa’ com um antropólogo formado na tradição do ‘holismo metodológico’ e na ‘teoria da hierarquia’, do que um aracnologista com um bioquímico ou um neurocientista.

A tabela de áreas do conhecimento da Capes lista algumas disciplinas consideradas oficialmente multidisciplinares. Segundo Duarte, a fronteira interdisciplinar mais ativa e fértil tende a ser a que emerge nos limites entre os saberes naturais e os humanos. (imagem: reprodução)

 

A fronteira interdisciplinar mais ativa e fértil tende a ser a que emerge nos limites entre os saberes naturais e os humanos. Relações entre a psicologia e a linguística, entre a medicina sanitarista e a antropologia da saúde, entre a biologia e a antropologia, entre a arqueologia e a física e entre a psiquiatria e a sociologia são regulares e caracterizam ricos veios de trabalho.

Uma outra fronteira importante é a das ciências humanas aplicadas, tais como o direito, a educação, o serviço social, ou de determinados saberes profissionais associados às ciências naturais, como a enfermagem, a educação física, a nutrologia e a saúde pública. Nesses campos são inevitáveis e constitutivos vínculos interdisciplinares de toda ordem. A antropologia, por exemplo, mantém interfaces com todos esses saberes, com maior ou menor rendimento.

 

Zonas de não-diálogo

Mas o quadro está longe de ser pacífico. Há efeitos de hegemonia no campo que induzem o surgimento de zonas de não-diálogo. A antropologia enfrentou, na segunda metade do século 20, o desafio da sociobiologia e enfrenta, nas últimas três décadas, o desafio das neurociências. Trata-se de derivações recentes da antiga ambição epifenomenista, ancoradas em desenvolvimentos tecnocientíficos novos (mapeamentos genéticos e do funcionamento cerebral), capazes de sugerir um conhecimento do humano exclusivamente baseado em seu suporte corporal, físico.

 

Um campo de batalha constante são as agências de fomento, onde os recursos escassos induzem a políticas de defesa disciplinar muito aguerridas

 

Essas zonas de anti-interdisciplinaridades têm frequentemente implicações graves, como no caso da subordinação da ética em pesquisas de ciências humanas a um conselho do Ministério da Saúde (assunto que abordei na coluna de setembro de 2011). Um campo de batalha constante são as agências de fomento (e suas instâncias de juízo pelos pares), onde os recursos escassos induzem a políticas de defesa disciplinar muito aguerridas. Um saber como o da psicanálise padece com a hegemonia da psicologia experimental; a medicina social e a psiquiatria social padecem com a dos demais ramos da biomedicina.

 

Em recente mesa realizada durante o XIV Simpósio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação e Psicologia (ANPEPP), em Belo Horizonte, tratei desse assunto, num contexto que sei ser muito conflitivo. O debate, no entanto, não foi muito a fundo, provavelmente porque a expectativa diplomática de uma pacificação ‘interdisciplinar’ acaba sempre prevalecendo sobre a consciência das profundas diferenças e clivagens que balizam nosso campo científico moderno.

 

Esta é uma dessas áreas delicadas em que um maior treinamento filosófico poderia servir como fundamento para mais autêntica disposição de trabalho. As dificuldades gerais são políticas, sem dúvida alguma, mas as bases de nossos dissensos se encontram no plano maior dos grandes paradigmas da construção do conhecimento na cultura ocidental moderna.

 

Luiz Fernando Dias Duarte

Museu Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

Sugestões de leitura:

Infante, Rafaelle. Ecologia da saúde mental: uma nova perspectiva interdisciplinar. Rio de Janeiro, Editora UFRJ / Istituto Italiano di Cultura, 1989.

Langdon, Esther-Jean e Garnelo, Luiza (orgs.). Saúde dos povos indígenas : reflexões sobre antropologia participativa. Rio de Janeiro: ABA / Contra Capa, 2004.

Lima, Manuel Ferreira; Eckert, Cornelia e Beltrão, Jane F. (orgs.). Antropologia e patrimônio cultural: diálogos e desafios contemporâneos. Blumenau, SC: Nova Letra, 2007.

Sahlins, Marshall. The use and abuse of biology: an anthropological critique of sociobiology. Ann Arbor: The University of Michigan Press,1976.

Victora, Ceres et al. (orgs.). Antropologia e ética: o debate atual no Brasil. Niterói, RJ: EDUFF, 2004.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

CÓDIGO FLORESTAL: PARECER DO RELATOR PREVÊ MUDANÇAS PARA RECOMPOSIÇÃO DE APP

  Relator da Medida Provisória 571/2012 que altera o novo Código Florestal, o senador Luiz Henrique (ao centro), apresenta seu parecer na comissão especial do Congresso que analisa a admissibilidade da matéria/Foto: Antonio Cruz/ABr]

 

As mudanças negociadas entre o Congresso e o governo na Medida Provisória 571 que trata do Código Florestal foram fechadas na noite de terça-feira, 10 de julho. O relator da matéria na comissão especial que analisa o assunto, Luiz Henrique (PMDB-SC), leu seu parecer na manhã de quarta-feira (11). Pela proposta, os proprietários e possuidores de imóveis rurais entre 4 módulos fiscais e 10 módulos fiscais, que derrubaram áreas de preservação permanente (APPs) para atividades agrícolas e de pecuária, terão que recompor 25% da área total do imóvel.

 

A alteração feita na comissão mista do Congresso, que analisa a admissibilidade da MP encaminhada pelo governo, atende à reivindicação de médios produtores. Essa regra não vale, no entanto, para imóveis localizados na Amazônia Legal.

 

O projeto de conversão estabelece nova regra para recomposição de APP em imóveis rurais que tenham cursos d’água. Pela proposta, serão exigidos 20 metros de mata ciliar para imóveis com área entre 4 módulos fiscais e 10 módulos fiscais com rios e córregos até 10 metros de largura. No caso das propriedades que excederem os 10 módulos fiscais, o projeto prevê o mínimo de 30 metros de mata ciliar e o máximo de 100 metros.

 

O senador Luiz Henrique negociou também com o governo federal, deputados e senadores mudanças no texto que trata da regra para concessão de crédito agrícola. Foi estabelecido que após cinco anos da data da publicação do novo Código Florestal, os bancos só concederão crédito agrícola, em qualquer modalidade, a proprietários de imóveis que estejam inscritos no Cadastro Ambiental Rural.

 

Pousio e reserva legal

 

Nesse capítulo, o projeto de lei de conversão inclui ainda que as obrigações quanto à regularização ambiental, que tomou por base a legislação de 1965, ficarão com as exigências, até então em vigor, suspensas até a instituição do Cadastro Ambiental Rural e do Programa de Regularização Ambiental.

 

Pela proposta, os proprietários e possuidores de imóveis rurais entre 4 módulos fiscais e 10 módulos fiscais, que derrubaram áreas de preservação permanente (APPs) para atividades agrícolas e de pecuária, terão que recompor 25% da área total do imóvel/Foto:Reprodução/CNA

 

No projeto que agora vai para análise da Câmara e posteriormente do Senado, o sistema de pousio – suspensão temporária de plantio para recuperação natural da terra, será de, no máximo, cinco anos. No entanto, a proposta que substitui a MP na tramitação no Congresso observa que o pousio terá um limite de 25% da área produtiva da propriedade ou posse.

 

No que diz respeito à recomposição das reservas legais, o projeto de conversão estabelece que a recomposição, regeneração e, no caso da compensação, se dará mediante autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).

 

Na hipótese de compensação, o órgão ambiental admitirá o cálculo das áreas relativas à vegetação nativa existentes em APP no cômputo do percentual da reserva legal. Isso não pode implicar, entretanto, em conversão de novas áreas para uso alternativo do solo ou quando a soma da vegetação nativa exceder 80% na Amazônia Legal e 50% do imóvel rural nas demais regiões do país.

 

No entanto, a proposta de lei possibilita aos conselhos estaduais de meio ambiente regulamentar e disciplinar outras hipóteses de cálculo das APPs e de reserva legal. As recomposições da reserva legal devem ser feitas em até dois anos contados a partir da publicação do novo Código Florestal no Diário Oficial da União.

Também se abriu a possibilidade de proprietários e posseiros rurais realizarem a averbação gratuita no período entre a publicação da lei e o registro no Cadastro Ambiental Rural. O projeto de conversão que substitui a MP permite ainda o uso de plantas exóticas e frutíferas na recomposição da reserva. (fonte: ECOd)

terça-feira, 10 de julho de 2012

FOI-SE UMA PIFIA RIO+20 MAS RESTAM OS GANCHOS

Apesar da superficialidade e de graves omissões, a declaração da Rio+20 indica o início ou a retomada de processos positivos. Selecionamos dez pontos de atenção cujos efeitos práticos dependerão principalmente do acompanhamento da sociedade

 

Há um mundo de sutilezas técnicas que separa a linguagem diplomática daquela que empenhamos no nosso dia-a-dia. Mas, em essência, a diferença nem é tão grande assim. Se reconhecemos os nossos problemas e declaramos a necessidade de mudança, há dois resultados possíveis: uma epifania que desencadeará ações concretas em direção a uma vida nova ou um momento fugaz de consciência que se diluirá na inércia dos velhos hábitos, sem maiores consequências.

Quando os países dizem algo semelhante, a bifurcação é a mesma. Pode dar em tudo, pode dar em nada. Depende do que virá depois. Essa dualidade ajuda a explicar, ao mesmo tempo, a decepção e a necessidade de agarrar os ganchos, embora tímidos, espalhados pela declaração oficial da Rio+20.

 

É claro que, passados vinte anos da Rio-92, e após dois anos de negociações direcionadas à nova Cúpula da Terra, a mera constatação dos desafios é insatisfatória. Os 283 parágrafos do documento O Futuro que Queremos apresentam intenções quando deveriam tratar de ação; flutuam no genérico quando já era hora de decidir pelo específico.

 

Mas como a energia dos milhares de atores não governamentais que se encontraram no Rio de Janeiro não pode e nem será desperdiçada, é fundamental conhecer os processos em andamento a partir das decisões tomadas na conferência. Admite-se que uma declaração consensual de 188 países sempre terá um peso político relevante. Quaisquer resultados práticos dependerão do nível de acompanhamento da sociedade civil organizada sobre as providências prometidas.

A seguir, selecionamos dez pontos a partir dos quais ações podem ser tomadas, acompanhados de um resumo e da indicação dos parágrafos correspondentes no texto oficial. Alguns desses processos devem ser iniciados já em 2012. Apresentamos, ainda, um diagrama que esclarece a lógica narrativa da declaração, espécie de guia de leitura. E tomamos a liberdade de resumir a essência do texto, nas palavras de Aron Belinky, coordenador de processos internacionais do Instituto Vitae Civilis.

 

É também de Belinky o depoimento capturado em vídeo por Alan Dubner (abaixo), durante debate na Arena Socioambiental, no dia 22 de junho. A análise vigorosa aprofunda o diagnóstico que apresentamos aqui, entre outros aspectos relativos ao balanço da Rio+20.

Aron Belinky na Rio + 20 from Alan Dubner on Vimeo.

domingo, 8 de julho de 2012

RELATÓRIO SOBRE MEDIDA PROVISÓRIA DO CÓDIGO FLORESTAL SERÁ APRESENTADO NA PRÓXIMA SEGUNDA

RELATÓRIO SOBRE MEDIDA PROVISÓRIA DO CÓDIGO FLORESTAL SERÁ APRESENTADO NA PRÓXIMA SEGUNDA

 

Senador Luiz Henrique da Silveira deve apresentar seu relatório e voto em relação à Medida Provisória (MP). O texto preenche as lacunas deixadas pelos 12 vetos da Presidente da República, Dilma Rousseff, ao novo Código Florestal.

Luiz Henrique é Relator da MP na comissão mista encarregada de estudar os pressupostos de relevância, urgência e constitucionalidade da MP. Se admitido na comissão, o texto segue para votação na Câmara e no Senado O prazo originalmente informado pelo próprio Senador para a apresentação do seu relatório era esta quarta-feira (4).

A votação dos demais integrantes da comissão mista estava prevista para o dia 10. Contudo, Luiz Henrique quer mais tempo para costurar acordos que, na opinião dele, facilitarão a tramitação da MP nas duas casas, quando os parlamentares analisarem seu mérito. A MP tem validade até 8 de outubro.

 

O Senador Luiz Henrique da Silveira deve apresentar seu relatório e voto em relação à Medida Provisória (MP). O texto preenche as lacunas deixadas pelos 12 vetos da Presidente da República, Dilma Rousseff, ao novo Código Florestal. [Leia mais]

 

Resíduos Sólidos, Recursos Hídricos e Commodities Ambientais serão debatidas no Senado

As gestões de resíduos sólidos e recursos hídricos caminham lado a lado. A importância da educação ambiental, a responsabilidade compartilhada, o incentivo à reciclagem, os lixões, aterros sanitários..[Leia mais]

 

Governo de Minas investe R$ 2,4 milhões em Centro de Referência para Mata Atlântica no Sul de Minas

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) firmaram convênio de R$ 2,4 milhões com a Prefeitura Municipal de Pouso Alto. [Leia mais]

 

Novo presidente quer transformar IBAMA em órgão de excelência na implementação de políticas ambientais

Pouco mais de um mês depois de tomar posse como Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o IBAMA, Volney Zanardi deixa clara sua missão de ampliar as atribuições do IBAMA...Leia mais

 

AMDA apresenta propostas de Projetos de Leis relacionados a Certificação Ambiental, Aquecimento Solar e Ciclo de Vida de Produtos

AMDA participou da 9ª audiência pública "A Câmara quer te ouvir". O projeto consiste em uma série de encontros realizados pela Câmara dos Deputados com objetivo de conhecer as demandas da sociedade..[Leia mais]

 

Legislação mineira deve ser adequada segundo novo Código Florestal

Na terceira reunião de trabalho da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da ALMG com o Ministério Público Estadual, realizada para tratar da adequação da legislação mineira ao novo Código Florestal Brasileiro. [Leia mais]

 

País carece de Lei para serviços ambientais

O Brasil está relativamente bem servido de iniciativas estaduais de pagamento por serviços ambientais (PSA), mas carece de uma lei federal que dê segurança jurídica e padronização técnica a essas iniciativas. [Leia mais

domingo, 1 de julho de 2012

ECODESENVOLVIMENTO X SUSTENTABILIDADE NA RIO+20

Da Conferência de Estocolmo, em 1972, a primeira grande reunião internacional a tratar do conflituoso binômio proteção da natureza-desenvolvimento econômico, nasceu o conceito de ecodesenvolvimento. Atribui-se a Maurice Strong, o grande articulador de Estocolmo, a proposição dele. Ignacy Sachs, um dos grandes nomes da ecossocioeconomia, procurou dar mais consistência ao conceito. Em síntese, ecodesenvolvimento significa crescimento econômico respeitando os limites dos ecossistemas.

 

Mas é necessário detalhar porque um crescimento econômico de larga escala e perdulário em recursos naturais não renováveis é ecologicamente insustentável. Assim, Sachs conferiu cinco dimensões ao ecodesenvolvimento:

 

1- Sustentabilidade ecológica. Implica na substituição progressiva dos recursos não renováveis por recursos renováveis de cada ecossistema do planeta, bem como em mudanças nos padrões de consumo. Com o consumismo reduzido na relação entre países ricos e países pobres e emergentes e na relação entre classes sociais, a produção de resíduos poluentes diminui. O mais importante aspecto a se destacar nesta dimensão é que o uso econômico de cada ecossistema exige técnicas e tecnologias apropriadas a ele. Assim, não se pode pensar no desenvolvimento da Caatinga, por exemplo, com técnicas e tecnologias padronizadas produzidas nos países do norte. Sachs salienta que tais técnicas e tecnologias não servem nem mesmo para os países do norte, pois elas promovem um mau desenvolvimento.

 

2- Sustentabilidade social. Um legítimo ecodesenvolvimento, além de adotar técnicas e tecnologias adequadas a cada ecossistema e se valer mais dos recursos renováveis do que dos não renováveis, deve visar o social. Ele restringe o lucro em nome da equidade social hoje e amanhã. Portanto, o ecodesenvolvimento deve assegurar condições para a equidade social no futuro.

 

3- Sustentabilidade espacial. Trata-se de trabalhar para uma relação equilibrada entre campo e cidade, promovendo-se a fixação de pessoas na área rural, inclusive incentivando o retorno de pessoas que migraram para áreas urbanas à procura de trabalho e qualidade de vida sem os encontrar.

 

4- Sustentabilidade cultural. No desenvolvimento clássico, interessado apenas no crescimento da economia, as diferentes culturas são desprezadas e destruídas. Na concepção do ecodesenvolvimento, as culturas são tão respeitadas quanto às soluções que encontraram para o uso dos ecossistemas. As técnicas e tecnologias criadas por elas devem ser aproveitadas e aprimoradas. Um desenvolvimentista convencional desconsidera a contribuição das culturas e assume a postura arrogante de quem detém o saber e a chave para o desenvolvimento. O ecodesenvolvimentista é humilde e procura aprender com cada cultura.

 

5- Sustentabilidade econômica. O ecodesenvolvimento não propõe estagnação nem retrocesso econômico, mas um tipo de crescimento econômico que esteja em consonância com os limites dos ecossistemas, com a equidade social, com a promoção do equilíbrio espacial e com respeito às diversas culturas.

 

Com o Relatório Brundtland, popularmente conhecido pelo título de “Nosso Futuro Comum”, a Organização das Nações Unidas propôs o conceito de sustentabilidade. Fundamentalmente, não existem grandes diferenças entre ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável. Este segundo pode ser resumido como a promoção do desenvolvimento hoje sem comprometer o direito ao desenvolvimento das gerações futuras. Ele foi adotado na Rio-92 e está prestes a ser substituído pelo conceito de economia verde na Rio+20.

 

Todavia, a retirada do radical eco permitiu que a palavra sustentabilidade fosse apropriada pelos governos, banqueiros e empresários com significados os mais distintos, de acordo com seus interesses. Os governantes proclamam estar promovendo o desenvolvimento sustentável, querendo dizer com isso (mas sem explicitá-lo) que o objetivo é alcançar um desenvolvimento convencional que não sofra oscilações. Neste sentido, a construção da hidrelétrica de Belo Monte é sustentável.

 

Os banqueiros falam em créditos sustentáveis, não explicitando que querem dizer empréstimos com juros estáveis, mas que podem ser usados na destruição de ecossistemas, no aprofundamento das desigualdades sociais e na desfiguração das culturas. A sustentabilidade é de interesse do banqueiro porque há garantias de retorno dos juros, não importa o estrago que os empréstimos possam causar.

 

O industrial entende que desenvolvimento sustentável é aquele que busca a estabilidade dos lucros, sem que sofram as oscilações típicas da economia de mercado. Que o leitor confronte os conceitos de ecodesenvolvimento e de desenvolvimento sustentável na análise do complexo industrial portuário do Açu. Ele pode muito bem se dizer sustentável, mas sem dúvida não é um exemplo de ecodesenvolvimento. Eis a diferença. (*)Por Arthur Soffiati*

ENC: WRI Digest: Rio+20 - Earth Summit - #RioPlus20

On Friday, June 22nd, the U.N. Conference on Sustainable Development (Rio+20) in Rio de Janeiro came to a close. In total, more than 100 heads of state and tens of thousands of representatives from government, business, and civil society came together over two weeks to advance solutions on sustainable development. "Rio+20 closed with more of a whimper than a roar ," said Manish Bapna, WRI's interim president, who participated in several Rio+20 events. "We cannot lose sight of the big picture. It would be a mistake to conflate the outcome here with what's happening on the ground around the world. Real action is taking place on national and local levels in many countries." Photo: Manish Bapna at the Rio+20 Dialogue on "Sustainable Development for Fighting Poverty

 

Rio+20 in the Rear View: Companies Call for Better Water Governance - Amidst all of the controversy and frustration over commitments and lack of progress, something significant did happen at Rio: Forty-five major companies representing hundreds of billions of dollars in annual revenue called for "much greater action by Governments" to achieve global water security. These major companies endorse the U.N.'s Global Compact CEO Water Mandate, an initiative designed to assist companies in the development, implementation, and disclosure of water sustainability policies and practices. Full story >>>

 

Achieving the Benefits of a Green Economy through Clean Energy - How can policymakers deliver low-carbon development, particularly clean energy, at affordable costs? What strategies have countries used to attain the economic benefits of building a clean energy industry while keeping the burden to consumers low - and who is succeeding, and why? These are just a few of the questions that policymakers grapple with when tackling the challenges associated with transitioning to a green economy, one of the key themes of the Rio+20 conference. Priya Barua explores these questions and discusses WRI's upcoming, cross-country analysis of clean energy industry development.

 

Environmental Protection and Poverty Reduction Are Linked - "While some portray environmental protection in opposition to poverty reduction, the reality is that the two are intimately intertwined," explains Manish Bapna. "We can - and should - tackle poverty at the same time as we protect ecosystems and natural resources. ...Ultimately, we need to push sustainability to the center of the political and economic agenda - and envision a planet where environmental protection and economic growth are part of a cohesive and integrated strategy."Full story >>>

 

Survey Says: Results of WRI's Project on Communicating Climate Science by Video. For this pilot project, supported by Google.org, we produced a series of climate science videos featuring Andy Dessler (Texas A&M University), Brian Helmuth (University of South Carolina) and Paul Higgins (American Meteorological Society).

 

Where do Renewable Energy Purchases Fit into a GHG Inventory? Many companies seek to purchase renewable energy and use the zero-emissions rate in calculating their indirect emissions from electricity consumption.

 

EPA's New Source Performance Standards: A Positive Step Toward Reducing Greenhouse Gas Emissions. The EPA's proposed New Source Performance Standards would limit carbon pollution from new power plants.

 

Asian Organizations Commit to Advance Corporate Action on Climate Change. WRI's GHG Protocol recently held a week-long training session in India to further build Asian companies' capacities to measure and curb emissions

 

400 PPM: Carbon Dioxide Levels Cross A Sobering New Threshold. Air samples taken from the NOAA observatory in Barrow, Alaska show that concentrations of CO2 in the atmosphere surpassed 400 parts per million (PPM) sometime this spring.

 

New Green Growth Alliance Will Help Spur Private Investment in Developing Nations. The G2A2 aims to scale-up private investment in green sectors like renewable energy, clean transportation, and sustainable agriculture