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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sebrae capacita 500 catadores de materiais recicláveis no DF

Atualmente, renda mensal da categoria costuma ser inferior a de um salário mínimo/Foto: Adenilson Nunes/Gov/Ba

Quinhentos catadores de materiais recicláveis, integrantes de associações e cooperativas serão beneficiados com a implantação do Projeto de Capacitação e Fortalecimento do setor. A partir de 2012, a metodologia desenvolvida pelo Sebrae no Distrito Federal será aplicada nas 29 cooperativas do DF, com o objetivo de estimular nos catadores competências necessárias para a melhoria da gestão. Com isso, estima-se elevar o grau de eficiência organizacional, desde a coleta até a comercialização de produtos.

Para Daniel Hudson, gestor do projeto do Sebrae no DF, a expectativa é aumentar o volume de material reciclado produzido pelas cooperativas e também elevar a renda média dos catadores. “Se aumentarmos em 15% o volume do que for coletado, ou seja, de 2.700 para 3.105 toneladas, a renda média da categoria passa de R$ 485 para R$ 557,75. Assim, o valor recebido por mês ultrapassa o salário mínimo”, avaliou Hudson à Agência Sebrae.

Outro objetivo do projeto é preparar os catadores para a realização de megaeventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016). “Sabemos que os mundiais terão a sustentabilidade como um dos princípios, prevendo a coleta seletiva e a triagem do material, recolhido pelos catadores”, observou Hudson.

A Cooperativa Popular de Coleta Seletiva de Produtos Recicláveis com Formação e Educação Ambiental (Coopativa) foi a primeira a receber a metodologia desenvolvida pela instituição, em 2010. Para atender aos próximos catadores que participarão do projeto, entre associados, dirigentes e conselheiros, serão formadas 10 turmas de 25 alunos para cada oficina.

“Essa quantidade é adequada para aplicação da metodologia, pois os dirigentes e os catadores líderes serão multiplicadores. Assim, toda a organização será impactada”, frisou Hudson. Além disso, várias cooperativas e associações estão localizadas na mesma região e área, o que possibilita a aplicação integrada em mais de um local.

Política Nacional de Resíduos Sólidos

Formalizar o trabalho dos catadores de material reciclável é um dos principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em agosto de 2010. Até então, a atividade era realizada de maneira voluntária. “O maior mérito dessa lei é a inclusão social de trabalhadores e trabalhadoras que, por muitos anos, foram esquecidos e maltratados pelo Poder Público”, afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à época da aprovação da nova lei.

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) espera que os trabalhadores possam ser remunerados pela prestação de serviços às prefeituras pela coleta, separação e reciclagem do lixo. Para o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Lixo, Severino Lima Junior, a PNRS ajudará na valorização da profissão. “Queremos que a lei aumente a renda dos recicladores. Atualmente a renda média de um catador é de cerca de um salário mínimo (R$ 510)”, observou Severino Lima Júnior, um dos líderes da entidade.  Fonte: Publicado originalmente no site EcoD.

 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

RIO TERÁ PRIMEIRA "BOLSA VERDE" DO PAÍS

O Rio de Janeiro terá a primeira "Bolsa verde" do Brasil. O projeto inédito pretende desenvolver um mercado de ativos ambientais para promover a economia verde fluminense. Será o primeiro mercado de carbono do país, mas o leque de commodities negociadas será mais amplo: terá efluentes industriais, reposição florestal e até lixo. A previsão é que comece a operar em abril de 2012, às vésperas da Rio+20, a conferência sobre desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

O primeiro passo nessa direção é o acordo de cooperação que será firmado amanhã entre a Secretaria de Estado do Ambiente, a Fazenda municipal e uma associação civil sem fins lucrativos, a BVRio. "A Bolsa é um ambiente de negociação, onde quem precisa de determinados ativos compra de quem tem", explica Suzana Kahn, subsecretária de Economia Verde da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio. Entre esses ativos, o carbono é o mais importante.

O mercado mais forte de créditos de carbono no mundo é o europeu. Movimentou mais de € 100 bilhões em 2010. A base é o estabelecimento de um teto de emissões de gases-estufa (conhecido em inglês por "cap") e a comercialização de licenças para emitir ("trade"). Algumas vezes tais licenças são doadas pelos governos às empresas; outras, são vendidas.

A empresa que emite mais do que seu teto tem débito e compra créditos da outra, que emitiu menos - sistema de compensação e comércio conhecido por "cap & trade". "Queremos estimular a melhor eficiência e incentivar quem consegue reduzir emissões a custo menor", diz Suzana. No futuro, a Bolsa deverá abranger também energia renovável e biomassa.

O mesmo raciocínio se aplica aos efluentes industriais na Baía da Guanabara ou para créditos de logística reversa e reciclagem. No último caso, a lei determina que os produtos ou suas embalagens voltem às indústrias depois do consumo. A lógica aqui é permitir que empresas ou cooperativas que realizarem atividades de logística reversa vendam seus créditos a quem precise. "O crédito atesta que alguém reciclou uma tonelada de aço", ilustra Pedro Moura Costa, presidente-executivo da BVRio.

"Uma empresa precisa reciclar aço, mas pode comprar os créditos de alguém que fez o trabalho para ela", explica Moura Costa. "Você delega o que tem que fazer a empresas especializadas, que podem realizar o trabalho a um custo menor do que você faria e de um modo melhor."

A BVRio é uma associação civil sem fins lucrativos, que quer desenvolver os tais ativos ambientais. Os associados da BVRio são representantes de empresas, tanto de indústrias como de outros setores (inclusive bancos) ONGs e cientistas ou pessoas envolvidas com finanças ambientais. Terá câmaras temáticas para discutir como esse espaço de negociação "pode nos ajudar a migrar para a economia verde", diz Suzana.

Outro setor de transação na Bolsa verde será voltado aos proprietários rurais que tiverem uma área de florestas maior do que a exigida por lei (a chamada reserva legal). Eles poderão vender seus certificados para outros proprietários, que precisarem recuperar áreas. É um esquema similar aos créditos de reposição de retirada de vegetação. Nesse tópico, quem usa madeira retirada de florestas nativas tem obrigação de repor o que tirou. Empresas que fizerem plantio de modo voluntário poderão vender créditos às que têm a obrigação de repor a mata.

"O governo tem que criar a demanda para cada uma dessas commodities", explica Moura Costa. "Estamos trabalhando para que o Estado tenha metas de redução", diz Suzana, referindo-se aos gases-estufa. Ela adianta que há contatos com siderúrgicas, empresas de petróleo e gás, cimento, para identificar o custo de cortar emissões. "Ao mesmo tempo, queremos criar um mecanismo de mercado para que possam cumprir suas metas", explica a subsecretária. "De um lado estaremos apertando, mas de outro, criando condições para que a economia verde deslanche."

Se o objetivo imediato da Bolsa fluminense é estimular a economia verde no Estado, a iniciativa pode ter estímulos indiretos. Um deles, por exemplo, é atrair para o Rio um setor de prestação de serviços ambientais que, em Londres, já representa 9.000 empresas, em prega 160 mil pessoas e tem faturamento anual de 23 bilhões de libras esterlinas, diz Moura Costa.

Ele foi o fundador de uma das maiores empresas do mercado de carbono do mundo, a Ecosecurities, adquirida em 2009 pelo J.P.Morgan. "Quero agora fazer algo semelhante no Brasil", diz. Engenheiro agrônomo com especialização florestal, Moura Costa acredita que a Bolsa verde pode aumentar a qualidade das metas ambientais que já existem, "que serão implementadas de modo melhor e por um custo menor".

"É muito difícil estimar o volume de operação dessa Bolsa", registra Eduarda La Rocque, secretária municipal da Fazenda do Rio. As conversas entre o governo estadual e o municipal se iniciaram há três meses, conta ela. "Queremos trazer o mercado financeiro mais para perto da economia verde", diz ela. "Essa iniciativa carrega junto todo um entorno de serviços, que envolve advogados, corretoras e uma Bolsa de valores."

Há muitos anos, o mercado de ações do Rio foi transferido para São Paulo. "Vamos ter que conseguir uma Bolsa parceira no projeto, que pode ser a de São Paulo, desde que toda a 'inteligência' da Bolsa verde esteja aqui", diz Eduarda. "Bolsa hoje é virtual. Em tese, as transações podem ser feitas independentemente de onde se esteja."

Há várias iniciativas similares à do Rio em estudo no Brasil. O governo federal há anos estuda o desenvolvimento de um mercado nacional de créditos de carbono. "Isso não é simples. Estamos, agora, estudando todas as regras", antecipa Suzana. Segundo ela, a recente conferência internacional sobre mudança climática da ONU em Durban, na África do Sul, foi positiva (mesmo que os avanços tenham sido tênues) nesse sentido.

"Durban apontou com clareza que há uma tendência irreversível para a economia de baixo carbono", diz. "Isso cria, no mercado, uma expectativa positiva. Ninguém vai querer investir em uma tecnologia que será obsoleta em 10 ou 15 anos."

Fonte: Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 19-12-2011.