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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

INOVAÇÃO DEVE SURGIR NO ESPAÇO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADE

Resistir é essencial

"Resistam!" Este foi o conselho, em uma palavra, dado pelo ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2005, Richard Schrock, aos acadêmicos brasileiros que se vejam pressionados a fazer pesquisa aplicada, sob o argumento de que é preciso suprir um papel no desenvolvimento econômico que não vem sendo desempenhado pelas grandes empresas.

"Na verdade, deve haver três áreas", explicou Schrock. "Os acadêmicos, as indústrias e um intermediário. Pessoas de espírito empreendedor, companhias start-up, possivelmente pessoas que venham da academia, que fazem descobertas e fundam empresas. São essas companhias que podem ser úteis para a indústria".

"A indústria não deve dizer aos acadêmicos o que fazer, isso é loucura", enfatizou Schrock, que dividiu o Nobel de 2005 com Yves Chauvin e Robert Grubbs, pelo desenvolvimento de uma reação, em química orgânica, que encontrou ampla aplicação em processos industriais, tanto na produção de fármacos quanto em outras áreas. "Nós na academia decidimos fazer o que é mais interessante para nós, não para eles".

O pesquisador reconheceu, no entanto, que a pressão para que a universidade encontre soluções rápidas para problemas atuais existe em várias partes do mundo. "Mas esta não me parece a melhor maneira de obter sucesso", ponderou. "Porque isso é só apagar incêndios, não é fazer progresso. Então, o que eu digo é, resistam!"

Distinção honesta

Schrock, que trabalhou na gigante química DuPont, traçou o que chamou de uma distinção "honesta" entre o trabalho de um pesquisador acadêmico e de um cientista contratado pela indústria:

"Companhias querem fazer dinheiro. Esta é a razão de ser delas. Na academia, faz-se ciência porque se acredita que essa é a coisa mais importante. Que avançar as fronteiras da ciência é o mais importante".

O pesquisador fez a ressalva de que "muita coisa boa acontece na indústria", mas lamentou o fim dos grandes laboratórios de ciência básica mantidos por corporações. "Eles não existem mais", declarou, acrescentando que não vê, na passagem por um grande centro industrial, uma etapa "fundamental" na formação de um cientista.

"A ciência acadêmica oferece uma experiência de aprendizado mais forte que a ciência industrial", disse.

Entre as consequências de ter ganhado o Nobel, Schrock mencionou o fato de estar "viajando muito". "As pessoas reconhecem meu nome, minha imagem, e tive a oportunidade de fazer coisas que não tinha tido antes, o que foi uma boa mudança".

Ele disse, no entanto, que as verbas para pesquisa continuam as mesmas.

Papel da universidade é o ensino

Outro ganhador do Nobel de Química, Ei-ichi Neghishi, premiado em 2010, disse que é preciso tomar cuidado para que a universidade não descuide do que, para ele, é sua principal função - o ensino.

"A melhor colaboração que a universidade pode dar ao país é a formação das mentes da nova geração", declarou. "Sem cabeças bem treinadas, não há como haver desenvolvimento, nem mesmo na indústria. Essas cabeças têm de começar, têm de vir da universidade".

O pesquisador acrescentou, porém, que em sua visão as universidades precisam receber algum tipo de orientação externa.

"Conheço muito bem a situação japonesa", disse. "Em minha opinião, as universidades lá não atuaram na área de pesquisa tão bem quando poderiam, ou deveriam. Como todas as organizações, as universidades pedem dinheiro, recebem dinheiro, e as coisas acabam crescendo além de um certo nível", ponderou.

Negishi disse que o Japão está, atualmente, reduzindo o número de suas universidades dedicadas à pesquisa, de 100 para 30. "Não sei se 30 é um bom número. Parece-me uma redução drástica", afirmou, mesmo reconhecendo que um ajuste no sistema japonês era, provavelmente, necessário.

Eliminando plantas e vacas

Para Negishi, o principal desafio atual de sua área de pesquisa - o desenvolvimento de catalisadores para reações orgânicas - está na busca por um meio de capturar gás carbônico da atmosfera e reaproveitá-lo como matéria-prima.

"As plantas fazem isso", disse ele. "Usam a luz do sol para converter CO2 em matéria vegetal, que depois as vacas comem, e transformam, por exemplo, em leite. Talvez seja possível não precisarmos mais desses estágios intermediários, as plantas e as vacas", exemplificou. Em sua opinião, o gás carbônico - cuja concentração na atmosfera, hoje, é tida como principal causa da mudança climática - é um recurso valioso, à espera apenas de um processo químico eficiente para ser aproveitado.

Tendo recebido o Nobel há menos de um ano, o cientista disse que gostaria de voltar para sua vida normal, mas que "ainda tenho que dar o que outras pessoas e outros países esperam, até um certo ponto".

Tanto Schrock quanto Negishi estiveram no Brasil para participar da Escola Avançada de Química, realizada entre 14 e 18 de setembro na Unicamp. Também vieram para a Escola outros dois ganhadores do Nobel de Química, Ada Yonath (2009) e Kurt Wüthrich (2002), além de outros importantes pesquisadores do Brasil e do mundo. (Fonte: Inovação Unicamp - 05/09/2011)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A CRISE E A APOSTA DE IGNACY SACHS PARA A RIO+20

A CRISE E A APOSTA DE IGNACY SACHS PARA A RIO+20

Saul Leblon

Há cinco anos, o mundo quase não encontra tempo para respirar. Manchetes em cascata regurgitam evidências de um magma em erupção. Desde a eclosão da crise imobiliária nos EUA, a partir de 2007, os fatos se precipitam a uma velocidade que não deixa dúvida: a história apertou o passo. Na ventania desordenada surgem os contornos de uma crise sistêmica . Restrita aos seus próprios termos, a engrenagem das finanças desreguladas não dispõe de uma alternativa para o próprio colapso. Uma crise se desdobra em outra. Iniciativas convencionais e cúpulas decisivas adquirem a validade de um pote de iogurte.

A desigualdade construída em 30 anos de supremacia dos mercados sobre o escrutínio da sociedade cobra sua fatura. Populações asfixiadas acodem às ruas. Governos se escudam em mais arrocho. Conquistar a confiança dos capitais semeia a desconfiança na política e o descrédito na democracia.

Nessa rota de colisão, a urgência ambiental tem um encontro marcado no Brasil em 2012: o país sediará a Cúpula da Terra, o mais importante fórum da ONU sobre as agendas, compromissos e diretrizes para reconciliar o desenvolvimento e o meio ambiente.

O que a sustentabilidade do século XXI pode esperar de Estados inabilitados para sustentar a própria contabilidade? Ou de governantes incapazes de se equilibrar sobre os próprios compromissos com os eleitores?

O professor Ignacy Sachs, economista e sociólogo, nascido na Polônia, naturalizado francês, brasileiro de coração não se impressiona com a metralhadora giratória dos impasses. ‘Digo que vivemos hoje uma dinâmica distinta daquela da Eco-Rio 92. E por incrível que pareça, talvez mais favorável ’, sentencia num claro desafio ao senso comum do desespero.

Governo, movimentos, partidos e entidades civis dispõem de pouco tempo, até outubro, para entregar a contribuição brasileira à conferência da ONU.

É aconselhável ouvir o que Sachs tem a dizer. Não é a voz de um personalismo. Mas o testemunho de um trunfo histórico: Sachs encarna o elo entre forças e agendas ainda desencontradas, mas de cuja afinidade depende em grande parte o êxito ou o fracasso da intervenção brasileira na Rio-2012 e, por que não, da própria cúpula.

O diálogo nem sempre fácil entre desenvolvimentistas, ambientalistas e a esquerda encontra na história desse workaholic de 84 anos, que vive entre o Brasil e a França, um idioma de pontos de convergência. Ele mistura desassombro e pragmatismo ancorados na experiência que adensa valores, em vez de descartá-los.

Sachs aportou no Brasil pela primeira vez em janeiro de 1941. Era o último navio de rota que saía de Portugal antes da interdição bélica dos oceanos ocupados por submarinos, minas e mísseis. Menino ainda, fugitivo de uma Polônia invadida pelo alemães, viu com encantamento o amanhecer na baia da Guanabara. “Contei os edifícios do navio, eram 42; em Varsóvia tínhamos apenas um. O Rio era o oposto daquele país atrasado que nos diziam, onde os macacos andavam pela rua. Era muito mais avançado que Varsóvia’.

O desassombro diante da vida moldou a sua inserção na história e as suas intervenções no mundo.

Neto de um avô banqueiro, alfabetizado numa Polônia nacionalista que se orgulhava de sua imbatível cavalaria, tão inexpugnável quanto a linha Marginaux, viu a família evadir-se de Varsóvia em 5 de setembro de 1939 levando apenas a bagagem de mão. “Deixamos para trás até o cachorro, Trol’. Seria um retiro de alguns semanas no campo, dizia o avô confiante –até que a valorosa cavalaria polonesa vencesse os tanques alemães. “O intervalo foi maior. Meu avô era um homem das finanças, portanto, bem informado, mas a história quando se move o faz com uma velocidade espantosa. Para o bem e para o mal. Sua capacidade de surpreender é impressionante ”, pondera Sachs.

Para atualizar os mais jovens, os muito céticos e, ao mesmo tempo, os cegos de otimismo ele explica: “Dias antes, talvez uma semana antes de Hitler invadir a Polônia, Molotov e Ribbentrop , respectivamente chanceleres russo e alemão, haviam assinado o pacto de não agressão. Deu-se o oposto: Hitler a invadiria a Polônia e dezesseis dias depois a Rússia ocuparia o país. Saímos de casa para um breve retorno, com base nos fatos e informações de 1º de setembro. A guerra mundial estendeu-se por anos; matou 40 milhões de pessoas’.

Ignacy Sachs voltaria a Polônia em 1954 para comprovar que a história de fato não se submete a roteiros lineares. Em 1960, o neto de banqueiros trabalhava no planejamento socialista do país liderado pelo economista Michael Kalecki, hoje reconhecido como um precursor de Keynes. De novo, a história fez das suas. Kalecki escrevia em polonês, não em inglês. Quem ficou famoso com as mesmas idéias foi Keynes.

Sachs trabalhou com Kalecki de 1960 a 1968. Dois anos depois ele estava em Osaka, no Japão, ao lado do economista Shigeto Tsuru, estudioso japones do marxismo. Testemunhou e discutiu ali um dos mais emblemáticos acidentes ecológicos do século XX: o desastre de Minamata. A contaminação por mercúrio industrial na baía com aquele nome matou 900 pessoas. Afetaria mais de dois milhões de japoneses que se alimentaram de peixes do lugar.

Desde então Sachs participaria ativamente dos eventos divisores da agenda ambiental, como a reunião de Estocolmo, em 1972 e, naturalmente, da Rio-92.

O que o torna uma ponte importante para certos impasses da agenda ambiental, é que – ao contrário de muitos – ele não renunciou a uma formação ecumênica.

Desenvolvimentista, como Celso Furtado, aliou à agenda do crescimento os valores da justiça social. Adepto do planejamento, renovou essa ferramenta despindo-a do autoritarismo tecnocrático para vesti-la com o diálogo entre as vozes da cidadania, mediadas pela harmonização do poder público. Ao conjunto adicionou o que denomina ‘imperativo do equilíbrio ambiental’.

De certa forma sua biografia realiza a fusão de que se ressentem tanto os desenvolvimentistas, a esquerda e os ambientalistas na busca de uma convergência capaz de renovar a plataforma da luta política em nosso tempo.

É dessa arquitetura histórica que ele critica o ressurgimento malthusiano que contamina certo ambientalismo, adepto do decrescimento para dizer: ‘se acham que a humanidade passou do ponto, tirem as consequências disso: como será feita a eliminação do excesso?’.

A seguir, os principais trechos da conversa de Carta Maior com Ignacy Sachs:

Carta Maior – Em 1992, a Cúpula da Terra, no Rio, foi atropelada pela emergência do ciclo neoliberal. A Cúpula de 2012 acontece em meio a maior crise do capitalismo desde 1929. De novo vamos na contramão?

Ignacy Sachs – De fato, a Rio-92 foi uma grande conferência com uma

agenda bastante razoável, mas que coincidiu com o fim da União Soviética e a emergência da onda neoliberal que varreu o mundo. O resultado é que de lá para cá nós não avançamos, nós recuamos.

CM – Que marcos o senhor destacaria nesse retrocesso?

IS – Bom, tivemos Bush! A guerra do Iraque… e tudo o que se originou dessa correlação de forças em termos de consequências ambientais. A Rio-92 aconteceu na contramão da história.

CM – Agora, a cúpula de 2012 será atropelada pela crise?

IS – Embora o tempo para prepará-la seja muito, muito pequeno e isso condicione o que podemos pensar em termos de agenda brasileira, talvez ela ocorra num porvir histórico mais favorável.

CM – Mas a crise atual acua governos e muitos se aferram à radicalização dos mesmos princípios que a originaram…

IS – A crise é a evidência contundente de que a receita neoliberal fracassou. E isso com certeza amplia o campo para se propor uma outra visão do futuro.

CM – Qual visão?

IS – Comecemos pelo que se pode querer da conferência. Em primeiro lugar, a Rio-2012 deve ser um ponto de ordenação de agendas. Os países membros das Nações Unidas devem sair dela comprometidos a trazer, num prazo de dois anos, seus planos de desenvolvimento sustentável e socialmente inclusivos. Ao mesmo tempo, é imprescindível reconstruir ferramentas institucionais. É preciso reposicionar a velha casa das Nações Unidas para as gigantescas tarefas que temos diante de nós.

CM – O que isso significa em termos práticos?

IS – Significa que sem dinheiro não iremos a lugar algum, muito menos a um mundo sustentável. É necessário resgatar a agenda de construção de um fundo para o desenvolvimento inclusivo e sustentável dos países mais pobres. Não cumprimos essa etapa no passado, ela sempre volta; terá que ser enfrentada agora. Nos anos 60/70 tínhamos a meta do famoso ‘1%’ dos países ricos para financiar a emancipação das nações pobres. Acho imprescindível retomá-la.

CM – Mas nem para a fome no Chifre da África há recursos …

IS – Nunca chegamos perto desse 1%. No melhor dos momentos apenas alguns países escandinavos se aproximaram de 0,8%, algo assim.

CM – Em pleno florescer do arrocho fiscal é viável resgatar essa agenda?

IS – Arrocho fiscal diante de uma crise como essa é um despropósito. Um náufrago agarra qualquer coisa que tenha pela frente, o que não significa que irá se salvar. O que estamos vendo é o oposto do que recomenda o bom senso e o keynesianismo. Não terá êxito. Vejo cinco portas de abertura para a criação de um financiamento adequado às metas de Rio-2012. A primeira, retomar a agenda do famoso 1% dos ricos; a segunda, criar uma taxa sobre emissão de carbono; a terceira, e creio que o momento é muito favorável, retomar a campanha pela taxa Tobin sobre transações financeiras; a quarta, e essa é uma sugestão minha: instituir pedágios sobre oceanos e ares, um percentual mínimo sobre passagens aéreas e marítimas; a quinta, multiplicar acordos plurianuais de comércio internacional, sobretudo de commodities, para estabilizar fluxos e preços e reduzir as flutuações especulativas que causam inflação e fome. Aqui abre-se espaço para resgatar uma proposta de autoria do Kalecki, feita na primeira Unctad, em 1964.

CM – Qual?

IS – A idéia é que nesses acordos comerciais de longo prazo, os preços das commodities tenham cláusula de reajuste bianual. As correções baseadas em médias de bolsas sofreriam um abate de 50% para cima e para baixo: se aumentar 10%, só aumenta 5%; se cai 10% só cai 5%. Com isso se atinge o objetivo de atenuar as flutuações.

CM – Isso tudo pode ser a proposta brasileira na Rio-2012?

IS – Poderia. Mas não acho que teremos um consenso no curto tempo disponível. Não é o fundamental. Insisto que a cúpula do Rio tenha uma natureza deflagradora e organizadora. Que seja capaz de fomentar planos a serem debatidos numa segunda rodada. Os americanos quando fizeram a Aliança para o Progresso, cujo objetivo era combater a Revolução Cubana, acabaram fomentando planos de desenvolvimento local. É um pouco esse efeito que devemos buscar agora para recolocar a agenda ambiental numa mesa ocupada exclusivamente pelas urgências da crise econômica.

CM – O grande ponto de divergência hoje, que divide inclusive esquerda e ambientalistas – e estes e os desenvolvimentistas – é quem vai arcar com o sacrifício do desenvolvimento sustentável. Ou seja, quem vai cortar emissões e quanto?

IS – A resposta é o conceito de pegada ecológica (per capita). Alguns povos, sobretudo países pobres e em desenvolvimento, ainda tem espaço potencial para expandir a pegada; outros, os ricos, terão que reduzi-la. A criação de emprego digno e decente deve pautar tanto a expansão quanto a geração de vagas alternativas no esforço para reduzir a pegada ecológica. Esses elementos devem pautar a formulação dos planos de desenvolvimento sustentáveis e inclusivos em esfera nacional.

Posteriormente, eles seriam harmonizados em dimensão global.

CM – Além de afrontar a lógica neoliberal, recolocando o planejamento, a sustentabilidade e a justiça social na mesa da crise, que outra marca política forte terá a Rio-2012?

IS – Será a 1º conferência do Antropoceno assumido.

CM – Como assim?

IS – Ao contrário do passado, quando ainda se discutia a influência ou não do homem no metabolismo planetário, agora não há mais dúvidas. Grupos científicos consolidarão até 2012 a evidencia irrefutável – para quem ainda duvida – de que vivemos no Antropoceno. Ou seja, a influência humana pesa de maneira decisiva no comportamento do ambiente terrestre. É o reconhecimento tardio, com dois séculos de atraso, de algo que ocorre desde a Revolução industrial. Mas é um divisor político com desdobramentos importantes.

CM – Por exemplo?

IS – Uma conferência com esse escopo deve ir necessariamente à raiz dos desafios e das responsabilidades. Temos que assumir essa responsabilidade com humildade. Nossa influência é preponderante, mas não somos deuses. Não temos o poder de governar a natureza.

CM – A aceitação do marco antropocênico não pode, ao mesmo tempo, fortalecer catastrofistas, neomalthusianos e similares; enfim, aqueles que recusam o desenvolvimento?

IS – Nós não estamos vivendo uma catástrofe irreversível. Podemos planejar o desenvolvimento sustentável e inclusivo. O catastrofismo e o malthusianismo não se justificam.

CM – A agenda da descarbonização, por exemplo, frequentemente soa como um pedido de renúncia ao crescimento.

IS – Minha posição é muito firme. As teses do decrescimento não procedem. Podemos e devemos crescer. O que é preciso é mudar os rumos do desenvolvimento para que ele seja inclusivo socialmente; e, número dois, tenha baixo impacto ambiental. Para isso é necessário planejamento, com ampla participação da sociedade.

CM – Falar em decrescer significa, por exemplo, deixar fora da discussão ambiental a China, que hoje é a fábrica do mundo…

IS – Descarbonizar a dieta de um camponês chinês e deixar livre o dono de um iate, que se desloca de jatinho de Nova Iorque para velejar na Flórida, é um absurdo. Ademais, não se trata de descarbonizar genericamente. Mas, sim, de renovar a agenda do desenvolvimentismo com base em inclusão e baixo impacto ecológico. A descarbonização será a decorrência desse processo. Não uma restrição antecedente que esmaga quem ainda vive na pobreza.

CM – A ressurgência neomalthusiana forma uma corrente cada vez mais forte; que riscos acarreta ao ambientalismo?

IS – Minha resposta a quem diz que não dá mais, ou seja, que o planeta ficará inviável com 9 bilhões de habitantes é a seguinte: extraia as consequências desse postulado.

CM – Quais são elas?

IS – Estão na obra de Jonathan Swift (*Em 1729, o escritor Jonathan Swift, autor das ‘Viagens de Gulliver, apresentou o que chamou de “modesta proposta” para resolver o problema da infância abandonada no seu país. Famílias pobres venderiam seus filhos para serem degustados como fina iguaria pelas famílias ricas. Segundo ele, sua “modesta proposta” daria renda aos pobres e uma nova delícia gastronômica à nobreza, criaria empregos na rede hoteleira e tiraria da rua a infância abandonada).

CM – Esse é o cardápio oculto do neomalthusianismo?

IS – Sim, e se o diagnostico é esse, vamos dar-lhe as devidas consequências: será por sorteio, por meio de uma guerra nuclear ou através da modesta proposta de Swift? Qual será o método de eliminação do excesso? Infelizmente, há muita gente que pensa de forma malthusiana. Tive uma discussão desse tipo com o oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau; Lovelock também pensa assim.

CM – A tese da descarbonização embute esse risco?

IS – Temos que encarar esse debate seriamente. Mesmo porque a população vai a 9 bilhões, isso está escrito no mapa de percurso da humanidade. Está dado. A pergunta é: podemos ter uma vida razoável com 9 bilhões? Eu acredito que sim, dentro dos parâmetros com os quais qualificamos a nova agenda do desenvolvimento. Agora, podemos ter a mesma qualidade ambiental e social com 90 bilhões de pessoas? Não. Mas a verdade é que uma multiplicação descontrolada como essa apenas evidenciaria a síndrome de um desequilíbrio. A miséria é uma de suas características. A estabilidade demográfica, em contrapartida, ocorre progressivamente desde que outras variáveis estejam presentes, entre elas eliminação da pobreza.

CM – A Europa que já foi importante aliada da agenda ambiental vive um trágico crepúsculo da social-democracia, colonizada pelo neoliberalismo. Isso vai atrapalhar a Rio-2012?

IS – Não vejo a Europa à beira de uma guerra como no final dos anos 30, mas vejo-a, entristecido, perder sua aderência política à idéia de solidariedade. O que ocorre dentro da próprio UE, com os ricos se afastando os mais pobres. Assistimos à emergência de um perigoso egoísmo social. Até prova em contrário, acredito que a solidariedade é um sentimento intrínseco ao fato humano. Ou então teríamos que abraçar a teoria de Hobbes: o homem é o lobo do homem. O capitalismo puro e duro sim, é isso. Daí a necessidade de organizar os contrapesos.

CM – A social-democracia européia renunciou ao social e ao ambiental?

IS – A social-democracia perdeu o rumo há muito tempo. Eles não entenderam o neoliberalismo, quiseram surfar na onda, agora estão encrencados e muitos divididos. As respostas que deram à crise não foram pela esquerda.

CM – Diante da tarefa imensa que é planejar o Antropoceno esse acanhamento europeu não o deixa pessimista?

IS – É muito difícil prever o desfecho político de uma crise dessas proporções. É verdade que ela nos pega despreparados. Não tivemos êxito em reconstruir uma verdadeira organização cooperativa mundial, por exemplo. Pior, regredimos em inúmeras frentes. Estamos muito longe, também, do paradigma fiscal introduzido por Roosevelt nos EUA. Enfim, vivemos uma crise sem um New Deal. No entanto, as coisas mudam muito rapidamente. Veja a crise de 29. Em 36, tivemos a vitória da Frente Popular, na França; em 38, tivemos o acordo de Munique entre França Alemanha e Inglaterra. Em 39 a invasão da Polônia… Ao mesmo tempo, quem teria acreditado em 1987 que dois anos depois a União Soviética desmoronaria? A história quando se movimenta o faz com rapidez e de forma muito distinta dos modelos preconcebidos. Há um espaço para a Eco-2012 e ele pode se ampliar rapidamente. É necessário estar preparado  (Carta Maior)

 

NOTICIAS MDL SUSTENTAVEL - Reunião Regional Preparatória para a América Latina e Caribe da Rio+20

Reunião regional preparatória para a América Latina e Caribe da RIO+20

Nos dias 7, 8 e 9 de setembro ocorrerá na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) em Santiago (Chile) a Reunião Regional Preparatória para a América Latina e Caribe da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável , a Rio+20. O evento servirá para os países da região definirem uma posição conjunta.

No dia 7 de setembro, das 9h:00 às 13h:00, haverá uma sessão plenária na qual estão convidados todos os países membros da CEPAL, além de representantes de organismos internacionais e da sociedade civil. Logo após, os países examinarão os avanços e as lacunas que persistem na região com relação ao cumprimento dos diversos compromissos do desenvolvimento sustentável assinados a nível mundial.

Também será apresentado um documento interagencial elaborado por 19 organismos, agências e programas das Nações Unidas, coordenado pela CEPAL, que faz um diagnóstico da situação regional e propõe linhas estratégicas para que os países latino-americanos e caribenhos possam trilhar em direção ao desenvolvimento sustentável. LEIA MAIS...

 

UE está empenhada no sucesso da RIO+20 Mas Brasil terá papel decisivo

 

A assessora especial da União Europeia professora Maria João Rodrigues disse hoje (31) que o bloco está empenhado no sucesso. Leia mais...

 

Comitê Executivo da ONU de tecnologias para mitigação e adaptação às mudanças climáticas conclui primeira reunião

 

Os membros do comitê executivo de tecnologia criado por força da Convenção das Nações Unidas para a Mudanças Climáticas a fim de facilitar o uso da tecnologia para apoiar a mitigação e adaptação às alterações climáticas concluiu sua primeira reunião no sábado, afirmando terem feito importantes progressos nas questões discutidas.

Reunidos em Bonn, os membros do Comitê Executivo da Tecnologia (TEC), o braço político da convenção de Mecanismos Tecnológicos, deliberaram sobre a forma como o TCE irá fornecer necessidades tecnológicas, avaliar a política e questões técnicas relacionadas ao desenvolvimento e transferência de tecnologia.

Durante o encontro de três dias discutiram também o compartilhamento de informações sobre tecnologias novas e inovadoras, facilitação da ação em tecnologia e formas de envolver as partes interessadas para construir o momentum dos Mecanismos Tecnológicos. (Para ler a  matéria em inglês clique aqui.) Leia mais...

 

Iniciativa mundial para implantar reflorestamentos em diversos locais do mundo é lançada na Alemanha

O Conselho Global de Restauração, resultado da união de líderes empresarias, políticos e de organizações não governamentais, pretende recuperar 150 milhões de hectares de florestas até 2020 sem intervir em áreas agrícolas. Leia mais

 

Amazônia: 62% das áreas desmatadas viraram apenas pastagens

Mapeamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária afirma que mais da metade dos 720 mil quilômetros quadrados de floresta derrubados até 2008 foi destina da para a pecuária. Leia mais

 

China e EUA são os países que apresentam mais atrativos para energias renováveis

As duas maiores economias do mundo se mantêm na liderança do ranking mundial como as nações mais atrativas para os investimentos em energias limpas; Brasil sobe uma posição em relação ao trimestre passado e está em décimo primeiro. Leia mais

 

Biomassa pode incentivar corrida global por terras

Países industrializados e empresas estão adquirindo vastas propriedades para plantar árvores e conseguir alcançar suas metas de geração renovável e redução de emissões, porém podem por em risco o modo de vida de milhares de pessoas. Leia mais

 

Links Relevantes

 

Leis Federais mais importantes, publicado pela Câmara dos Deputados

http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1362/legislacao_meio_ambiente_3ed.pdf?sequence=11

Reunião Regional Preparatória para a América Latina e Caribe da Rio+20 - PAISES DA AMERICA LATINA NO CHILE

Rio+20: Países da América Latina debatem desenvolvimento sustentável

Nos dias 7, 8 e 9 de setembro ocorrerá na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) em Santiago (Chile) a Reunião Regional Preparatória para a América Latina e Caribe da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável , a Rio+20. O evento servirá para os países da região definirem uma posição conjunta.

No dia 7 de setembro, das 9h:00 às 13h:00, haverá uma sessão plenária na qual estão convidados todos os países membros da CEPAL, além de representantes de organismos internacionais e da sociedade civil. Logo após, os países examinarão os avanços e as lacunas que persistem na região com relação ao cumprimento dos diversos compromissos do desenvolvimento sustentável assinados a nível mundial.

Também será apresentado um documento interagencial elaborado por 19 organismos, agências e programas das Nações Unidas, coordenado pela CEPAL, que faz um diagnóstico da situação regional e propõe linhas estratégicas para que os países latino-americanos e caribenhos possam trilhar em direção ao desenvolvimento sustentável.

A reunião será inaugurada pela Secretária Executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, e pelo Representante Regional para América Latina e Caribe e Diretor-Geral eleito da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, pelo Subsecretário de Relações Exteriores do Chile, Fernando Schmidt, e pelo Subsecretário-Geral do Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo.

Ao final do encontro espera-se a aprovação da declaração dos países da América Latina e Caribe para a Rio+20.

http://www.onu.org.br/rio20-paises-da-america-latina-debatem-desenvolvimento-sustentavel/

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

NOTICIAS MDL - CEMIG INVESTE NO MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

CEMIG INVESTE NO MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO (Diario Financeiro Online)

 

Com o objetivo de contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa, a Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig está investindo no desenvolvimento de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo previstos no Protocolo de Kyoto.

 

Nesse contexto, a Usina Hidrelétrica Baguari recebeu autorização para obtenção de créditos de carbono que serão comercializados a partir de 2012.  A iniciativa consiste em uma central hidrelétrica a fio d’água com capacidade instalada total de 140 MW que, convertidos em créditos de carbono, representam uma redução anual de aproximadamente 65 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2).

 

Localizada em Governador Valadares, a usina iniciou sua operação em 2009 e é gerida pelo consórcio constituído pelas empresas Neoenergia (51%), Cemig (34%) e Furnas (15%). Com uma matriz energética predominantemente renovável, a Cemig está atenta à relevância global dos debates acerca das mudanças climáticas e possui projetos de MDL em diferentes estágios para registro e obtenção dos Certificados de Emissões Reduzidas, como as Pequenas Centrais Hidrelétricas Dores de Guanhães e Senhora do Porto. LEIA MAIS...

 

UE E AUSTRÁLIA DEVEM DISCUTIR VÍNCULO ENTRE ESQUEMAS DE COMÉRCIO DE CARBONO (Reuters)

A Austrália e a União Europeia concordaram em iniciar negociações para vincular seus esquemas de comércio de emissões de carbono enquanto os esforços globais para combater as mudanças climáticas lutam para avançar.

 

Há dois meses, o governo australiano revelou planos para impor um imposto sobre as emissões de carbono a partir de julho de 2012, antes de partir para um sistema de comércio de carbono a partir da metade de 2015.

“A decisão da Austrália de colocar um preço nas emissões de carbono é, na nossa visão, um passo importante, tanto ambientalmente quando economicamente”, disse o presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso na segunda-feira, após negociações com a primeira-ministra australiana Julia Gillard em Camberra.

 

“Pela nossa visão e pela experiência europeia, é a forma mais rentável de reduzir as emissões e também de criar oportunidades de negócios verdes. Vamos agora continuar nosso trabalho conjunto por um regime climático global, e também em uma base bilateral veremos o que podemos fazer juntos”, afirmou Barroso. Leia mais ...

 

RIO+20: QUESTÕES SOBRE ECONOMIA VERDE E GOVERNANÇA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (Vita e Civilis)

 

A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em 2012, a Rio+20, tem como propósito promover arranjos institucionais globais adequados para a superação da pobreza e miséria social e o enfrentamento dos problemas ambientais, dentro de enfoques de equidade e justiça. A Rio+20 não pode ser vista como uma mera conferencia sobre os desdobramentos dos acordos da Cúpula da Terra, a Rio-92, nem se trata de um debate global sobre questões ambientais somente. LEIA MAIS

 

 

COM A APROXIMAÇÃO DA COP-17, ENTENDA O QUE ESTÁ EM JOGO NAS NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE CLIMA (Vita e Civilis)

 

Morrow Gaines Campbell, especialista do Vitae Civilis no regime de mudanças do clima, faz uma análise sobre o significado das COPs e apresenta as expectativas para a COP-17, na África do Sul

 

Acontece este ano em Durban, na África do Sul, a 17ª edição da Conferência das Partes (COP-17), Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (CQNUMC). Apesar da baixa expectativa para o encontro, esta pode ser uma nova possibilidade para um outro pacto que tenha a redução das emissões de CO2 como uma perspectiva concreta.

 

Segundo Morrow Gaines Campbell, Durban não pode ser uma versão africana da COP-16, que aconteceu em Cancún, no México, em 2010, e significou um novo fracasso nas ações para lidar com o aquecimento global e mudanças climáticas. "O nível das negociações em Durban precisa ser alto. Será um desafio histórico com novas demonstrações de solidariedade e parceria entre nações com o objetivo de evitar a realidade climática desastrosa que nos aproxima", diz Gaines.

 

Para apresentar a trajetória das negociações, o texto "Mudanças de Clima: de COP em COP num caminho de pedras, num campo minado", escrito por Morrow Gaines em  julho deste ano, apresenta o cenário das discussões, o posicionamento dos diferentes países, o papel da sociedade civil, o quadro real das mudanças climáticas e o que esperar do encontro em Durban. LEIA MAIS

 

sábado, 3 de setembro de 2011

CONSTRUÇÃO CIVIL É MAIOR EMISSOR DE CO2 NO MUNDO

CONSTRUÇÃO CIVIL É MAIOR EMISSOR DE CO2 NO MUNDO (O Debate)

 

Estados Unidos - Segundo informações do Energy Information Administration (2006), a construção civil é o principal setor responsável pelas emissões de CO2 no mundo, ultrapassando automóveis e indústrias.

Porém, estes números podem ser reduzidos em até 39% quando se trata de uma construção ecologicamente correta. Além disso, práticas sustentáveis podem reduzir em até 50% o consumo de energia, 40% o gasto de água e 70% a geração de resíduos sólidos.

Atualmente, existem alguns parâmetros para que uma obra seja considerada sustentável, como eficiência energética, baixo consumo e reutilização de água, uso de materiais recicláveis e regionais, sistemas eficientes para conforto térmico e gestão ambiental.

A analista de projetos na Verti Ecotecnologias, Fernanda Vidal, ressalta que é importante investir ainda na análise de ciclo de vida dos materiais, o que reduz o uso inadequado de matéria-prima e auxilia na escolha correta dos materiais. “Trata-se de um investimento em longo prazo, que trará benefícios para os usuários, vizinhos e também para o planeta”, afirma

 

A ECONOMIA VERDE PRECISA DE UM ROSTO SOCIAL (Mercado Ético)

 

Convocada duas décadas após a ECO-92, um divisor de águas nas relações internacionais envolvendo a problemática socioambiental no planeta, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, chegará ao Brasil em junho de 2012. Foi no mesmo palco, a cidade do Rio de Janeiro, que se construiu uma das agendas mais ambiciosas e progressistas para o desenvolvimento global dos princípios de sustentabilidade e igualdade. Uma avaliação honesta, contudo, sugere que, embora avanços tenham sido feitos e inovações tenham ocorrido, o mundo fracassou em consolidar novas estruturas macropolíticas que representem verdadeiramente mudanças nos negócios....

 

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